Tom do debate entre Costa e Jerónimo foi morno. Até a cor da gravata foi coincidente
António Costa e Jerónimo de Sousa escolheram a mesma cor para a gravata -vermelha. Uma concordância que contagiou o início debate.
“O senhor deixou claro que gostou mais de trabalhar com um do que com outro”. Clara de Sousa, que nesta segunda-feira moderou o debate entre António Costa (PS) e Jerónimo de Sousa (PCP) – o primeiro debate das legislativas, na SIC –, começou pela questão que irritou os bloquistas nos últimos tempos: as diferenças de relacionamento do PS com os parceiros de solução governativa, PCP e BE. A jornalista quis saber porque é que António Costa considerou mais fácil trabalhar com o PCP, mas o primeiro-ministro fugiu à polémica. “Nunca disse que era mais fácil, disse sempre que não seria justo fazer comparações. Não quero diminuir a exigência que o PCP sempre pôs nesta relação”, disse o primeiro-ministro.
Minutos antes, a SIC recuperara declarações recentes de ambos os líderes, a maior parte das quais elogiosas. António Costa surgiu a falar na grande “maturidade institucional do PCP”, no facto de “ter governado grandes câmaras" e de ser um “partido de massas” que “não vive na angústia de ter de ser notícia todos os dias ao meio-dia”. Jerónimo apareceu a elogiar António Costa por ser uma pessoa que sabe “distinguir o essencial do acessório”, que “procura a solução e não o problema”. O comunista sublinhou ainda a “paciência revolucionária" que por vezes era necessária para fazer vingar a solução governativa. Já Costa referiu-se à sua própria “paciência reformista” que, combinada com a de Jerónimo de Sousa, fez com que a “geringonça” funcionasse.
Num debate sem crispação, em que os dois candidatos coincidiram na escolha da cor da gravata (vermelha), nem as declarações sobre a legislação laboral foram acesas - apesar de terem sido aquelas em que houve mais troca de argumentos. O comunista criticou o facto de as alterações ao código de trabalho terem sido aprovadas com a direita e repetiu que “para cada posto de trabalho permanente deve haver um posto de trabalho efectivo”. Mas António Costa explicou, verbalizando o respeito que tem pelo facto de o PCP defender que se podia ter ido mais longe, que “esta é a primeira legislação que em vez de comprimir os direitos alarga os direitos dos trabalhadores”. E acrescentou que as empresas têm de perceber que, “se querem ser competitivas a vender, têm de ser competitivas a contratar”.
Depois de citar dados sobre a criação de emprego nos últimos quatro anos, o primeiro-ministro disse: “Olhe, é também resultado do trabalho de Jerónimo de Sousa”. Pouco antes, Costa havia dito que só o PS assume a responsabilidade por todos os resultados da governação. "Foram incluídas centenas de propostas do PCP. Recuso-me a aceitar responsabilidades sobre propostas de que discordo”, respondera Jerónimo, concluindo que, apesar de tudo, o PCP não sente que perdeu mais do que ganhou ao viabilizar a solução de Governo.
Sobre o salário mínimo, tema que dividiu mas também aproximou os candidatos, o socialista frisou que “com o PCP nunca houve acordo para o salário mínimo nacional (SMN) porque o PCP nunca concordou com o valor”. Mas depois assumiu que é preciso aumentar o SMN. "Aparentemente há aqui uma convergência”, notou o comunista, dizendo que fica a faltar o “quando e o quanto”.
Centeno in ou Centeno out?
Quase no final do debate, que durou 30 minutos, Clara de Sousa quis saber se António Costa conta com Mário Centeno no próximo executivo. “Os convites para o Governo fá-los-ei quando tiver legitimidade para os fazer”, respondeu o primeiro-ministro, dizendo que primeiro ainda falta saber os resultados das eleições. Perante a insistência da jornalista, acrescentou: “Não é preciso ter grandes dotes para saber que quem tem de formar uma equipa não deixa no banco os melhores jogadores”.
Para Jerónimo de Sousa foi guardada uma pergunta final sobre o seu futuro político: deixará a liderança do PCP a seguir às legislativas. “A questão não está posta. Vou fazer esta campanha com toda a disponibilidade e determinação”, respondeu. “Há quem afunile a vida para as eleições. As eleições são muito importantes, mas se reduzisse a minha actividade ao resultado das eleições, então estaria aqui a mais”, afirmou. “Isso quer dizer que faz parte da solução?”, questionou a moderadora. “É a opinião dos meus camaradas”.
Os debates que irão sentar frente-a-frente os líderes partidários candidatos às legislativas de 6 de Outubro arrancam esta segunda-feira. Nas próximas semanas, e até ao final do mês, os partidos com assento parlamentar vão discutir as suas propostas eleitorais nos canais televisivos — em canal aberto e por cabo. Esta segunda-feira, o frente-a-frente acontece entre Jerónimo de Sousa e António Costa e poderá ser visto na SIC. É o primeiro de 13 debates a dois, que se prolongam até 23 de Setembro.
António Costa e Rui Rio são os dois candidatos com mais presença nos televisores e rádios dos eleitores. No total, quer Costa quer Rio irão ter oito debates para apresentar as suas propostas eleitorais. Os partidos e coligações sem assento parlamentar terão direito a um debate televisivo, que será transmitido a 30 de Setembro.