Melides, “a meio de um processo de transformação, à medida que uma onda de super-ricos descobre este local extraordinariamente bonito”, é ainda uma “aldeia simples”, despretensiosa, com cerca de 1500 habitantes, “uns quatro restaurantes, uma igreja, algumas lojas pequenas e um supermercado”.
Tem ainda outro predicado: “Situa-se a meio de um trecho de 64 km de praias quase intocadas e próximo de centenas de quilómetros quadrados de campos de sobreiros, vinhas e arrozais”.
O jornalista que assina o artigo do New York Times, Eric Lipton, diz ter chegado ao Alentejo “quase por acidente” este Verão, com a mulher e a filha, e o texto é uma sucessão de elogios e recomendações sobre o Alentejo, “uma região de incomparável beleza e autenticidade”.
O passeio começa por Melides, onde a família ficou alojada e onde o designer Christian Louboutin se prepara para construir o primeiro hotel da aldeia, um espaço com 21 quartos que, nota o jornalista, em Agosto ainda não tinha começado a ser construído.
A aldeia, “quase vazia” mas onde já existem lojas de vestidos e de biquínis com assinatura de designers de moda, é como “Saint-Tropez costumava ser nos anos 1950, antes de Brigitte Bardot, ou Ibiza, antes da primeira vaga de festas de Verão ter ouvido falar daquele hot spot no Mediterrâneo”, compara.
Já a Comporta está transformada “numa mini-versão dos Hamptons”. “Carros de luxo enchem as ruas movimentadas, casais em trajes de estilo boémio andam entre galerias de arte, lojas de artigos para casa e decoração, discotecas e bares ao ar livre.”
As comparações com estas e outras paragens de luxo paradisíaco à beira-mar não são novas e até se repetem quase ipsis verbis: tal como a zona entre Melides e Comporta, multiplicam-se na imprensa internacional nos últimos meses, da Forbes (Com um “cenário variado e irresistível”, o Alentejo é a região a visitar) passando pelo Wall Street Journal (A Comporta poderá ser uma “nova Ibiza”?).
Mas há mais Alentejo para (re)descobrir no texto do jornal norte-americano, de Évora à Herdade Aberta Nova, de Grândola ao seu restaurante A Talha de Azeite, passando por Santo André e descendo à Zambujeira do Mar. Sem esquecer aquele que, escreve Eric Lipton sem rodeios, é “o pedaço de praia mais extraordinário que já vi no mundo”: a praia da Galé.
E, fazendo caso do superlativo, justifica: “Você caminha por um longo caminho em direcção à vastidão do Atlântico. Desce por uma escadaria precária construída num penhasco de arenito, antes de chegar à praia. No caminho passa por uma colecção deslumbrante de arenitos avermelhados e desgastados pelo tempo, que parecem esculturas abstractas. […] Finalmente, ao nível do mar, ao virar-se em ambas as direcções, até onde pode observar, não há nada para além de um vasto trecho de praia vazia e de um pescador ocasional com uma cana de pesca enterrada na areia ou um pontilhado de famílias com guarda-sóis.”
Admite o New York Times que “toda a gente sabe que isto dificilmente pode durar”. Mas, por agora, o Alentejo ainda é um paraíso de “desconexão”, o “último pedaço imaculado da costa atlântica de todo o sul da Europa”. Ou, como descreve ao jornal o pintor britânico Jason Martin, um dos novos habitantes da região, um lugar remoto e despretensioso. “Parece que não pertence ao mundo contemporâneo a que estamos acostumados. É uma fuga pela porta dos fundos.”