Meditação junto à Cruz
O universo da pintura serve de terreno para um romance que é uma meditação sobre o que há de perecível e mesmo vil na condição humana, mas também sobre quanto pode transcender esses limites inescapáveis.
Tríptico da Salvação recupera um universo que, de certa forma, era já o de um romance anterior de Mário Cláudio, o breve Retrato de Rapaz (Dom Quixote, 2014). Há mais do que um ponto a aproximar os dois livros. Qualquer um deles toma para si o período histórico do Renascimento, entendido em sentido lato; em ambos os casos, os acontecimentos evoluem a partir de uma relação próxima e tensa entre um mestre artista e um discípulo. A perspectiva narrativa é, nos dois romances, histórica e psicológica, documental mas também especulativa. Se, na obra anterior, o artista era Leonardo, no mais recente romance de Mário Cláudio, é Lucas Cranach quem ocupa esse lugar de prestígio simbólico no romance. Tríptico da Salvação elege para cenário a Saxónia do século XVI, ou seja, uma Alemanha balcanizada, assente num emaranhado de divisões administrativas e políticas. Uma divisão que espelha e prolonga outro tipo de separações: nomeadamente, as de carácter religioso, cuja génese este romance captura e tematiza.
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