Novo governo à vista em Itália com Conte como primeiro-ministro
O 5 Estrelas impôs o nome do primeiro-ministro demissionário e o líder do Partido Democrático aceitou. Tudo aponta para que Itália não tenha de ir a eleições.
O puxa e larga da política italiana está inclinado para um entendimento, depois do Presidente Sergio Mattarella ter dado ao Movimento 5 Estrelas (M5S) e ao Partido Democrático (PD) mais um dia para limar as diferenças e encontrar uma plataforma de entendimento para formar um novo governo que evite eleições antecipadas.
O Presidente italiano estabelecera o prazo de terça-feira para as duas formações políticas acordarem uma coligação (foram as duas mais votadas nas eleições de Março de 2018), mas concordou na segunda-feira prolongar por 24 horas o limite de tempo.
Mattarella começou as audiências esta terça-feira, mas deixou os principais partidos para quarta-feira: o PD será ouvido às 16h e o M5S às 19h (menos uma hora em Lisboa). Espera já ter a coligação de governo montada e as negociações terminadas para decidir se dá posse ao executivo dos dois partidos.
Curiosamente, as negociações chegaram a um impasse esta terça-feira de manhã quando o 5 Estrelas exigiu que Conte continuasse como primeiro-ministro, algo que o PD não queria.
“Metade de Itália pediu-me que faça este governo com Conte como primeiro-ministro. Escutei toda a gente e percebi que devia render-me”, afirmou Nicola Zingaretti, o líder do PD, justificando o recuo do seu partido em relação a Conte. Para travar Matteo Salvini pediram-lhe para engolir esse sapo: “Até cantores, actores, escritores me telefonaram. Só queriam uma coisa,”, disse o político, citado pelo La Repubblica.
O M5S, que travou o processo de negociações até ser aceite a condição do seu partido, reabriu as conversas logo depois de o PD revelar a sua concordância: “Recebemos de forma positiva a abertura mostrada pelos responsáveis do PD sobre o futuro papel do primeiro-ministro Conte. Estamos prontos para negociar sobre políticas”, reagiu o 5 Estrelas em comunicado.
A cedência do partido de centro-esquerda não chegou sem o aviso: “Não permitirei que se humilhe o PD”, avisou Zingaretti. O partido quer ficar com o Ministério das Finanças e recusa aceitar que Di Maio, o líder do M5S, fique com a pasta do Interior, onde Salvini talhou a sua alta popularidade no Governo e a partir da qual quis derrubá-lo para ir a eleições e passar a dominar a política italiana.
“O acordo de governo está em risco de falhar por causa das ambições pessoais de Luigi Di Maio, que quer ser ministro do Interior e vice-primeiro-ministro”, afirmou o porta-voz do PD. O partido de centro-esquerda acusa o líder do 5 Estrelas de “não ouvir ninguém e agir com ultimatos”. Fontes do M5S garantiram à Reuters que nunca Di Maio exigiu a pasta do Interior.
Além disso, Zingaretti também não morre de amores que Di Maio seja vice-primeiro-ministro. O líder do PD acredita que um primeiro-ministro sem força política ladeado por dois vices de partidos diferentes foi o que levou à queda do governo de coligação entre o M5S e a Liga.
“Um governo formado pelo 5 Estrelas e os Democráticos não corresponde ao sentimento da população”, afirmou Salvini esta terça-feira, agora que sente que a sua jogada política arriscada de fazer cair o governo para antecipar eleições e aproveitar a popularidade da Liga – depois da vitória nas eleições europeias de Maio com 34% dos votos, as sondagens chegam a dar-lhe 39% das intenções de voto – está prestes a atirá-lo para a oposição.
“Esperemos que se se formar um governo PD-M5S as pessoas se manifestem rapidamente”, disse por seu lado Alessandra Locatelli, ministra da Família, da Liga.
Salvini, no Twitter, demarcou-se, no entanto, de qualquer apelo a levantamentos: “Ainda estou a trabalhar como ministro do Interior e o meu trabalho é garantir a estabilidade. Não estou interessado em insurreições populares – essas aconteceram em 1848”.
As notícias de que Itália poderia ter um novo governo em breve foram bem recebidas pelos mercados, com as principais praças a navegar em ondas positivas. “A Itália tem uma vantagem sobre os outros hoje [terça-feira] porque há esperança que se possa formar uma coligação e evitar eleições antecipadas”, disse à Reuters Connor Campbell, analista financeira na Spreadex, em Londres.
As negociações entre os dois partidos seguiam tensas na tarde de terça-feira, com o M5S agressivo a tentar fazer-se valer do seu estatuto de maior partido (ganhou as eleições de 2018 com 32%) e das indefinições dentro do PD, que foi empurrado para um acordo político que não desejava, “obrigado” pelo seu ex-líder Matteo Renzi, que desde a liderança da bancada de deputados avançou com a ideia e a defendeu como indispensável para evitar que o país caia nas mãos da extrema-direita.
“Assim não se vai lá. Numa fase tão delicada para o país, não há tempo a perder. No PD, ainda têm as ideias confusas”, disse uma fonte do M5S citada pela AFP.