Trump terá sugerido usar bombas nucleares para deter furacões
“Eles começam a formar-se na costa de África e enquanto se movem pelo Atlântico lançamos uma bomba nuclear no olho do furacão e isso irá desfazê-lo. Por que não fazemos isso?”, terá dito o Presidente dos EUA.
O Presidente norte-americano Donald Trump terá sugerido em várias ocasiões que as Forças Armadas norte-americanas bombardeassem furacões para os impedir de alcançarem o território dos EUA, escreve, nesta segunda-feira, o site norte-americano de notícias Axios.
De acordo com o Axios, Trump terá repetido a ideia várias vezes a responsáveis do Departamento de Segurança Interna e do Conselho de Segurança Nacional. O site cita várias fontes que afirmam ter ouvido o Presidente a referir a ideia, ou dizem ter tido acesso a um memorando do Conselho de Segurança Nacional em que essa sugestão ficou registada.
Segundo uma das fontes, o Presidente terá mencionado a possibilidade num briefing na Casa Branca sobre um furacão que se aproximava dos EUA: “Percebi, percebi. Por que não lhe lançamos uma bomba nuclear em cima?”
“Eles [os furacões] começam a formar-se na costa de África e se lançarmos uma bomba nuclear no olho do furacão enquanto se movem pelo Atlântico isso irá desfazê-lo. Por que não fazemos isso?”, terá repetido Trump.
A fonte não identificada citada pelo Axios lembra que o responsável pelo briefing terá dito que “iria ver o que se podia fazer”. Trump terá respondido, reiterando a sua questão e deixando a sala “surpreendida”. “Quando a reunião acabou pensámos: ‘Mas que raio? O que fazemos com isto?’”, disse a fonte do Axios, normalmente bem informado.
Não terá sido a primeira vez que o Presidente norte-americano aflora esta questão: de acordo com um memorando de 2017 do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Trump perguntou se não se devia bombardear os furacões para os impedir de atingir o território norte-americano. De acordo com uma fonte citada pelo Axios, o Presidente terá falado em bombardear várias coisas e “não apenas furacões”.
“O seu objectivo – evitar que um furacão catastrófico atinja o continente americano – não é mau”, disse um alto funcionário ouvido pelo Axios, saindo em defesa do Presidente norte-americano. A Casa Branca não quis comentar “as discussões privadas que o Presidente possa ou não ter tido com a sua equipa de segurança nacional”.
No Twitter, esta segunda-feira, Donald Trump negou que tivesse feito esta sugestão. Mas a verdade é que esta é uma ideia persistente no imaginário dos norte-americanos.
Uma “má ideia” antiga
Trump não é o primeiro Presidente a falar desta ideia, que circula pelo menos desde a era de Eisenhower (Presidente norte-americano entre 1953 e 1961) e que motiva todos os anos a escrita de cartas por cidadãos preocupados a agências governamentais.
A ideia foi, num primeiro momento, alimentada por um cientista – Francis W. Riechelderfer, chefe do Departamento de Meteorologia –, que a mencionou num discurso em Outubro de 1961: “Imagino a possibilidade de um dia fazer explodir uma bomba nuclear num furacão, no mar”. Riechelderfer acrescentou, no entanto, que o seu departamento não começaria a fazer experiências até “sabermos o que estamos a fazer”.
Anos mais tarde, esta possibilidade foi largamente desacreditada pela comunidade cientifica, porque a energia libertada por uma bomba nuclear seria insuficiente para deter um furacão. A própria NOAA (Agência para os Oceanos e a Atmosfera dos EUA) referiu o assunto numa página de perguntas frequentes: “Para além de poder nem sequer alterar a tempestade, esta abordagem negligencia o problema de que a radioactividade libertada poderia, rapidamente, movimentar-se com os ventos e afectar áreas costeiras e causar problemas ambientais devastadores. Não é preciso dizer que é uma má ideia.”
Na mesma linha, um artigo da National Geographic com o título “Lançar uma bomba nuclear sobre um furacão: a história surpreendente de uma ideia mesmo má”, publicado pouco tempo depois de Trump assumir a presidência, sublinha que a ideia nunca poderia ser posta em prática porque bombardear um furacão seria proibido pelos termos do tratado de explosões nucleares pacíficas, assinado entre os EUA e a antiga URSS.