Desde 2015 que não chegavam tantos imigrantes às ilhas do Egeu

O aumento faz temer que o país ultrapasse em breve as 100 mil pessoas em campos de refugiados, o máximo com que as autoridades gregas dizem poder lidar. Psicóloga dos Médicos sem Fronteiras diz que nunca viu tanto “desgaste mental”.

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Requerentes de asilo numa tenda perto do campo de Moria - este está sobrelotado e muitos preferem ficar fora Giorgos Moutafis/Reuters

Durante as primeiras semanas de Agosto, mais de 1500 requerentes de asilo chegaram à ilha grega de Lesbos – foi mais do triplo do mesmo período do ano anterior. Desde 2015 que não chegava tanta gente, e os números estão a aumentar, diz organização norueguesa Aegean Boat Report, que monitoriza as chegadas.

Em 2015, Lesbos viveu um Verão em sobressalto com barco após barco de pessoas em fuga de perigos como guerras ou perseguições a chegar a vários locais da costa. A viagem a partir da Turquia é relativamente curta mas perigosa, feita em pequenas embarcações insufláveis com muito mais passageiros do que é seguroHouve quem usasse coletes salva-vidas que em vez de flutuarem iam ao fundo; muitos não chegaram com vida. Habitantes da ilha contam que ouviam os gritos de pessoas em dificuldades, outros viram, pela primeira vez, alguém a afogar-se.

Nos Verões seguintes, fruto de acordos (entre a União Europeia e a Turquia, por exemplo), o número de pessoas a chegar às ilhas do mar Egeu diminuiu drasticamente. Mesmo assim, os campos para refugiados nas ilhas continuaram a ter mais pessoas do que a sua capacidade, em enorme precariedade e insegurança.

O campo oficial de Lesbos, Moria, só tem capacidade para entre duas mil a três mil pessoas, mas há muito que acolhe mais: no início de Agosto eram 7370, disse o responsável pelo campo, Yiannis Balpakakis, ao jornal grego Kathimerini.

Uma psicóloga dos Médicos sem Fronteiras, Katrin Brubakk, que está em Lesbos, onde foi sete vezes nos últimos quatro anos, descreveu esta semana à televisão britânica ITV: “Nunca vi as pessoas tão desgastadas mentalmente como agora. Todos os dias vemos adultos psicóticos, suicidas, e quanto mais pressão houver sobre as pessoas, pior vai ser.”

Os serviços de saúde mental estão a braços com demasiados pacientes, e o número de crianças atendidas por problemas psicológicos duplicou no último mês. 

O Frontex, agência responsável pelas fronteiras externas da UE, notava que no mês de Julho, em que as chegadas já tinham começado a aumentar, a maioria dos imigrantes eram afegãos. 

A Grécia tem neste momento cerca de 90 mil imigrantes e refugiados em mais de 50 campos e centros tanto no continente como em cinco ilhas do mar Egeu, diz o diário britânico The Times. O aumento das chegadas faz temer que o país ultrapasse em breve os 100 mil, o máximo com que as autoridades gregas dizem poder lidar, o que resultaria numa crise humanitária num país que está há anos em crise económica.

O deteriorar das condições dos refugiados na Turquia é uma das razões para este aumento. A Turquia, onde estão 3,6 milhões de refugiados sírios, está a tentar enviá-los de Istambul para as províncias onde se registaram quando chegaram. Organizações como a Human Rights Watch dizem que as autoridades turcas estão a mandar alguns de volta para a Síria, incluindo para Idlib, que está em guerra, com as tropas de Bashar al-Assad a tentar conquistar a última zona na posse de uma amálgama de grupos de rebeldes, incluindo jihadistas. As autoridades turcas negam.

Esta não é a primeira vez que há suspeitas de que as autoridades turcas fechem os olhos e permitam mais saídas de barcos quando querem pressionar a Grécia ou a União Europeia. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, ameaçou no mês passado cancelar o acordo com a UE de reenvio de imigrantes para a Turquia, se Bruxelas não der aos turcos a possibilidade de entrar nos países europeus sem precisar de visto.

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