Tribunal angolano recusa sigla de partido por ser igual à de outro que nunca existiu

Abel Chivukuvuku viu a sigla do PRA-JA ser recusada pelo Constitucional por não se distinguir claramente do PRJA, um projecto de 1994 que nunca passou da comissão instaladora.

Foto
Abel Chivukuvuku saúda os seus apoiantes na caminhada até ao Tribunal Constitucional para legalizar o partido no princípio do mês Ampe Rogério/Lusa

O Tribunal Constitucional (TC) de Angola rejeitou a sigla do novo Partido do Renascimento Angolano – Juntos por Angola (PRA-JA), liderado por Abel Chivukuvuku, por considerar que a mesma “viola o princípio da não confundibilidade, porquanto não se distingue claramente da grafia e da fonética do Partido Republicano da Juventude de Angola (PRJA)”.

A única questão é que o PRJA nunca existiu. E o próprio acórdão reconhece isso mesmo. “A comissão instaladora foi credenciada a 3 de Setembro de 1994 e cancelada a 20 de Dezembro de 2006”, alegando o Tribunal Supremo na altura que o mesmo esta em “incumprimento exigíveis por lei”.

Discurso legal que constata apenas uma coisa, a comissão instaladora do PRJA acabou por nunca criar o partido e 12 anos depois de o processo ter entrado no tribunal o mesmo foi arquivado por, na verdade, não se ter instalado nenhum partido.

O tribunal deu agora 15 dias ao partido do antigo assessor político de Jonas Savimbi, afastado em Fevereiro da liderança da CASA-CE (a terceira maior força política de Angola), para alterar a sigla.

O que podia parecer um pequeno revés na criação de uma força política pode ser um escolho maior para quem corre contra o tempo para conseguir ter uma estrutura partidária montada para concorrer às eleições autárquicas de 2020.

Daí que depois de comunicada a decisão do tribunal na quinta-feira, e mesmo com um prazo de 15 dias para alterar a sigla, a direcção do partido tenha optado por não contestar o acórdão e escolher rapidamente outra denominação, de modo a fazer avançar o processo. A denominação é agora PRA-JA Servir Angola. (Veja aqui o comunicado.)

“Assim mesmo, e porque somos cidadãos cientes do dever de obediência às instituições da República de Angola e do Estado angolano, viemos aqui informar a opinião pública que ontem, dia 22 de Agosto, em obediência ao despacho do venerando juiz presidente do TC, procedemos à alteração da sigla do PRA-JA, para PRA-JA SERVIR ANGOLA”, disse esta sexta-feira, em conferência de imprensa, Carlos Xavier Lucas, membro da comissão instaladora, citado pelo Novo Jornal.

A direcção do Partido do Renascimento Angolano estava à espera que a legalização da comissão instaladora estivesse concluída ainda neste mês de Agosto para poder entregar as assinaturas 30 dias depois. A lei estabelece um prazo de 90 dias, depois de aceite a comissão instaladora, e a entrega de 7500 assinaturas válidas, mas o PRA-JA quer encurtar em dois meses o processo e assegurar 30 mil a 50 mil assinaturas, para “garantir que não haja empecilhos”, isto é, antevendo que muitas assinaturas sejam consideradas inválidas pelo juiz.

Para Chivukuvuku, de 61 anos, esta é a sua terceira experiência partidária distinta. Depois de ter tentado chegar à liderança da UNITA, em 2007, perdendo a corrida à presidência para Isaías Samakuva, deixou a formação política de toda a sua vida para criar a CASA-CE, a coligação de cinco pequenos partidos que se tornou na terceira força política angolana. Só que a sua tentativa de transformar a coligação num partido acabou por falhar e o veterano político viu-se afastado da liderança e abandonou a formação política. 

Sugerir correcção
Comentar