Arquitecta portuguesa Mariana Pestana é a curadora da Bienal de Design de Istambul em 2020
Quer, como profissional do Sul da Europa, “descentralizar o discurso” do design e da arquitectura. “As suas reflexões críticas sobre os temas contemporâneos e questionamento dos futuros ficcionais são bastante intrigantes”, diz a organização.
A arquitecta portuguesa Mariana Pestana vai ser a curadora da próxima Bienal de Design de Istambul, sendo a primeira portuguesa a ocupar o cargo no jovem evento. A organização da bienal turca, que anunciou o nome esta quinta-feira, elogia a forma “apaixonada” como a profissional portuguesa trabalha e congratula-se com o facto de poder trazer para a 5.ª edição do encontro uma “abordagem colaborativa”. Trabalhar “à escala de uma cidade” é um dos desafios da curadora, que também valoriza o facto de, sendo uma profissional do “Sul da Europa, poder descentralizar o discurso da área do design e da arquitectura”, como disse Mariana Pestana ao PÚBLICO.
A 5.ª Bienal de Design de Istambul decorrerá entre 26 de Setembro e 8 de Novembro de 2020. A arquitecta e curadora portuguesa foi escolhida por um conselho consultivo que comenta, num comunicado divulgado esta quinta-feira, que “a abordagem apaixonada de Mariana Pestana beneficiará a bienal de muitas formas” e que “as suas reflexões críticas sobre os temas contemporâneos e questionamento dos futuros ficcionais são bastante intrigantes”. Mariana Pestana ainda não começou a desenvolver o programa que vai levar a Istambul, cidade onde deseja que a bienal que vai comissariar deixe “raízes” e interaja com o público e o tecido profissional da cidade, “envolvendo as pessoas que estão a trabalhar no terreno”, como explicou esta quinta-feira ao PÚBLICO.
A Bienal de Design de Istambul nasceu em 2012 como um festival na óptica empresarial do design, mas a sua abordagem tem sido a de oferecer também uma programação tanto reflexiva quanto desafiante do pensamento sobre a disciplina. Organizada pela Fundação para a Cultura e as Artes de Istambul (IKSV), que desde 1973 desenvolve uma série de eventos como a Bienal de Arte de Istambul, a Bienal de Design tem vindo a crescer de importância internacional. O enquadramento conceptual da 5.ª edição ainda não é conhecido. As áreas de interesse de Mariana Pestana, que verte no seu trabalho curatorial, são a “prática social crítica e o papel da ficção e da reimaginação de futuros para uma era marcada pelo progresso tecnológico e uma crise ecológica”, como indica a bienal turca.
Mariana Pestana tem 37 anos e é natural de Viseu e estudou arquitectura na Universidade do Porto. Em 2008 mudou-se para Londres, onde completou o mestrado em Ambientes Narrativos na Central Saint Martins College of Art and Design, onde viria a dar aulas – é professora de Spatial Design na prestigiada faculdade e também leccionou a cadeira de Design Interactions na Royal College of Arts. Mas foi ainda em 2011 que fundou com a arquitecta Suzanne O’Connell, o designer de interiores Xavier Llarch Font e a psicóloga Carolina Caicedo o estúdio multidisciplinar The Decorators. Divide-se entre o Porto e Londres e nos últimos anos doutorou-se em Arquitectura e ensina no Sandberg Institute.
Agora, a curadora vê esta nova tarefa como uma oportunidade para cruzar experiências distintas do seu percurso, como explicou ao PÚBLICO. “Nos últimos anos trabalhei em contextos mais institucionais, fazendo exposições com formatos relativamente convencionais, mas por outro lado fui desenvolvendo trabalhos com [o seu estúdio] Decorators com um cariz mais participativo, e muitas vezes com o público e fora do espaço museológico. Interessa-me trabalhar nestes contextos, não necessariamente no espaço limitado do museu. Uma bienal pode ser um espaço para conjugar essas duas experiências à escala de uma cidade.”
Os seus trabalhos como comissária e no campo da curadoria têm-na projectado para algumas das mais importantes instituições e palcos do sector no mundo: foi uma das responsáveis pela mostra The Future Starts Here no Victoria and Albert Museum (V&A) de Londres (2018) e co-curadora da exposição Eco-Visionários: Arte, Arquitectura após o Antropoceno no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (2018) e que continua a viajar, estando actualmente no Matadero em Madrid. Colaborou com a Trienal de Arquitectura de Lisboa em 2013 com a mostra A Realidade e Outras Ficções; em 2014 foi co-curadora de Living Transitory, que representou Portugal na 14.ª Bienal de Arquitectura de Veneza, e em 2016 levou This Time Tomorrow ao Fórum Económico de Davos a convite do V&A. É também curadora do programa e laboratório Fiction Practices, que fará parte da próxima Porto Design Biennale (Setembro de 2019).
Mariana Pestana sucede então a Jan Boelen, curador da 4.ª edição da jovem bienal, Beatriz Colomina e Mark Wigley, curadores da edição de 2016, Zoë Ryan na 2.ª edição, e a Emre Arolat e Joseph Grima na edição inaugural. O conselho consultivo da bienal é composto pelo seu antecessor no cargo de curador da bienal, o designer e académico Jan Boelen, e pelos curadores Carlos Mínguez Carrasco e Amelie Klein, bem como por Selva Gürdoğan, do estúdio Superpool. Na última edição, a bienal mostrou projectos de cerca de 120 designers, tendo sido assinalado que 70% deles eram mulheres.