Buraco negro apanhado a engolir uma estrela de neutrões
Encontro violento entre os dois objectos cósmicos terá sido denunciado pelas ondas gravitacionais que gerou.
Um buraco negro terá sido detectado pela primeira vez a engolir uma estrela de neutrões devido às ondas gravitacionais geradas por essa refeição cósmica, anunciou esta segunda-feira uma equipa de cientistas.
Mas este encontro cataclísmico já aconteceu há algum tempo, como conta a investigadora Susan Scott, da Universidade Nacional da Austrália, que participou no trabalho. Foi há 900 milhões de anos que o buraco negro “comeu” uma “estrela muito densa”, conhecida como estrela de neutrões, “possivelmente apagando a estrela de forma imediata”, esclareceu a investigadora citada num comunicado da sua universidade.
O fenómeno gerou ondas gravitacionais – ondulações na curvatura espaço-tempo – que foram captadas na última quarta-feira, tanto nos detectores LIGO, nos Estados Unidos, como no Virgo, em Itália.
Previstas há mais de cem anos pelo físico Albert Einstein, as ondas gravitacionais foram detectadas pela primeira vez em 2015 e, dois anos mais tarde e quatro detecções depois, esse feito valeu o Prémio Nobel da Física. Tinham todas sido originadas pela colisão de dois buracos negros gigantescos. Depois disso, em 2017, outra novidade: observaram-se duas estrelas de neutrões a colidir e a gerar tanto ondas gravitacionais como luz (em várias bandas do espectro electromagnético, como raios gama, raios X, luz visível e infravermelhos).
Quando uma estrela bastante maior do que o nosso Sol (a partir de oito massas) consome todo o hidrogénio em reacções nucleares, a sua parte central entra em colapso e dá origem ou a uma estrela de neutrões ou a um objecto ainda mais denso, um buraco negro. Por isso, uma estrela de neutrões, tal como um buraco negro de origem estelar, é uma estrela que morreu. Ao contrário das estrelas de neutrões, dos buracos negros nem a luz consegue escapar, uma vez já lá caída, tal é a força de gravidade exercida por estes objectos.
E foi agora um buraco negro a devorar uma estrela de neutrões que terá sido detectado, pelo menos a partir (apenas) das ondas gravitacionais criadas no tecido do espaço-tempo que forma o Universo.
Da Austrália, o telescópio SkyMapper examinou depois toda a região do cosmos onde o fenómeno poderia ter-se produzido à procura de luz que pudesse também ter emitido. Mas a equipa de astrónomos não obteve nenhuma “confirmação visual”, acrescenta Susan Scott.
Embora ainda sejam resultados preliminares, os dados iniciais sugerem com “grande possibilidade”, segundo o comunicado, que que se trata de um buraco negro a envolver uma estrela de neutrões. “Nunca tinha sido detectado um buraco negro mais pequeno do que cinco massas solares nem uma estrela de neutrões com mais de 2,5 vezes a massa do Sol”, sublinha Susan Scott.
“Com base nesta experiência, estamos muito seguros de que o que acabámos de detectar é um buraco negro a engolir uma estrela de neutrões. No entanto, existe uma outra pequena, mas intrigante, possibilidade de o objecto engolido ter sido um buraco negro muito ‘leve’ – muito mais ‘leve’ do que qualquer outro buraco negro que conhecemos no Universo. Isso seria um verdadeiro prémio de consolação.”