Dique do Belenenses SAD cedeu à torrente do Benfica
“Encarnados” dominaram e ganharam num estádio no qual tinham deixado ficar três pontos na temporada passada. Rafa esteve sempre uma velocidade acima de todos os outros.
Há dias assim, em que (quase) nada corre bem a uns e (quase) tudo corre bem a outros. Num jogo praticamente de sentido único, o Benfica não pôde contar com a eficácia dos dois avançados, mas acabou por compensar essa lacuna com o tremendo acerto dos alas, que deram expressão no marcador a um domínio claro sobre o Belenenses SAD (0-2). À segunda jornada da Liga, os “encarnados” mantêm a liderança.
Foram duas ideias de jogo distintas as apresentadas sobre um relvado que não esteve à altura dos artistas que o pisaram. Silas, que há muito que já provou ser um estratega capaz, optou por um sistema que contemplava cinco defesas (um 5x4x1 em organização defensiva) graças ao recuo de Nuno Coelho. A ideia permitiu-lhe ganhar linhas de passe na saída de bola e desmobilizar a pressão em cunha que Seferovic e Raul de Tomas normalmente exercem — o espanhol passou a jogar uns metros mais atrás, para evitar que a bola entrasse nos médios.
Se do ponto de vista defensivo o Belenenses SAD conseguiu manter alguma solidez, ofensivamente mostrou sérias dificuldades em entrar no bloco do Benfica, que fechava bem por dentro e era rápido a apertar o adversário quando a bola entrava no lateral. De tal forma que a única real ocasião que criou no primeiro tempo surgiu na sequência de uma escorregadela de Ruben Dias após uma solicitação de Kikas na profundidade: no frente a frente com Vlachodimos, o guarda-redes levou a melhor.
Antes, já tinham sido dados múltiplos sinais de que não seria a noite de Raul de Tomás ou de Seferovic. Aos 7’, Pizzi fez um passe a régua e esquadro que o espanhol desperdiçou primeiro e o suíço a seguir; aos 17’, De Tomás cabeceou por cima após passe de Rafa; aos 23’, tentou a sorte de fora da área mas a bola saiu ao lado do poste direito.
A ansiedade de fazer o primeiro golo oficial pelo Benfica também não o ajudou num segundo tempo em que a lucidez da tomada de decisão passava a ter também o desgaste como inimigo. Percebia-se que a solução teria de ser outra e a via mais directa para o sucesso acabaria por ser Rafa. Imparável nas arrancadas pelo corredor central (“custou” três amarelos ao Belenenses SAD), o extremo mostrou também os dentes a recuperar bolas e finalizou com uma precisão cirúrgica aos 58’.
O dique montado pelos anfitriões, que até aí tinha aguentado a torrente de futebol gerado pelo campeão nacional, cedia e um novo jogo começava. Silas ainda esperou para ver qual a reacção do Belenenses SAD, mas arriscou tudo aos 79’, quando trocou o central Kau pelo extremo Imad Faraj, transformando o 5x4x1 num 4x4x2.
Numa falha individual de Nuno Tavares, o argentino Nicolas Vélez esteve perto de empatar (atirou ao lado só com Vlachodimos pela frente), mas seria o Benfica a acabar com as dúvidas. Já com Chiquinho em campo, um jogador acima da média quando se trata de definir no último terço, a bola voltou a entrar na baliza de Koffi aos 84’, mas foram necessários cinco minutos de conferência das imagens para o golo de Seferovic ser anulado, por fora-de-jogo.
Rafa, porém, não estava satisfeito e tinha mais uma mudança para engatar. Com a naturalidade de quem “funciona” uma velocidade acima dos outros, disparou pelo corredor central aos 90+2’, libertou para Pizzi na direita, no momento certo, e o remate cruzado só parou no fundo das redes.
Com o trabalho de casa feito, diante de um adversário de má memória recente, o Benfica pode agora centrar atenções no clássico com um FC Porto que tenta recuperar terreno.