Beja e Portalegre sem Urgência de Obstetrícia e Litoral Alentejano sem cirurgia

Falta de médicos especialistas em número suficiente para o preenchimento das escalas de serviço inviabiliza o funcionamento dos serviços.

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Nelson Garrido

Os hospitais de Beja e Portalegre não têm Urgência de Ginecologia e Obstetrícia desde esta sexta-feira e durante o fim-de-semana e, no Hospital do Litoral Alentejano, não se vão realizar cirurgias, por falta de médicos.

Fontes dos três hospitais contactadas pela agência Lusa explicaram que a falta de médicos especialistas em número suficiente para o preenchimento das escalas de serviço, durante estes dias, inviabiliza o funcionamento dos serviços.

Armindo Ribeiro, secretário regional do Alentejo do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), lembrou que “as dificuldades dos hospitais da região para conseguirem fixar médicos não são novas”, mas, “a situação tem-se agravado e acentuado nos últimos meses e no último ano”, sendo necessárias “medidas emergentes por parte do Governo”.

“É preciso avançar com a contratação imediata de médicos. Têm que se criar medidas específicas para aumentar o número de médicos nos hospitais e nos centros de saúde do Alentejo”, reivindicou.

No Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, pertencente à Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA), a Urgência de Ginecologia e Obstetrícia já esteve encerrada, esta semana, entre as 06h00 de terça-feira e as 08h00 de quarta-feira, por falta de médicos para preencher a escala.

A situação repete-se esta sexta-feira, confirmou à Lusa fonte hospitalar, estando o mesmo serviço “temporariamente indisponível, desde as 06h00 de hoje [sexta-feira] até às 08h00 de domingo, por falta de médicos da especialidade”.

“Está encerrado temporariamente. São necessários dois médicos para fazer a escala e o que acontece é que às vezes temos um, mas, como não encontramos o segundo, não podemos ter a urgência aberta só com um”, explicou.

Para preencher as escalas, assinalou, o que “normalmente” se faz é recorrer “aos prestadores de serviços, mas, nestas alturas de férias de Verão e com um feriado a meio da semana [na quinta-feira], é mais complicado”.

“Foram esgotadas todas as possibilidades e não conseguimos assegurar a escala”, frisou, assinalando que é a “sexta vez” que este cenário acontece no hospital este ano, mas “não é expectável” que regresse tão depressa: “Até final deste mês e até meio do mês de Setembro temos todas as escalas já preenchidas”.

O fecho temporário “foi comunicado ao Ministério da Saúde e ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)” do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), entidade “a quem cabe fazer o encaminhamento das grávidas, consoante a sua localização, para outros hospitais”, afirmou a fonte, dando como exemplo os de Évora ou de Faro.

Já no hospital de Portalegre, o mesmo serviço encerra às 20h00 desta sexta-feira e volta a funcionar às 08h00 de segunda-feira, com as utentes a terem como alternativa Évora, revelou o porta-voz da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), Ilídio Pinto Cardoso.

A unidade tem só um obstetra nesta altura, faltando outro para poder completar a escala, explicou, frisando que esta “é quase feita ao dia”, o que dificulta poder avançar se a situação se vai repetir este mês.

No Hospital do Litoral Alentejano (HLA), em Santiago do Cacém (Setúbal), o problema é outro durante este fim-de-semana, mas a causa é a mesma. Devido à falta de profissionais “em número suficiente” para preencher a escala de serviço, não vão ser feitas cirurgias no bloco operatório, explicou fonte clínica.

“Das 08h00 de sábado às 08h00 de segunda-feira, vão estar um cirurgião e um interno na urgência de cirurgia apenas para o diagnóstico e reencaminhamento dos doentes para outras unidades, mas não efectuamos intervenções cirúrgicas porque falta um cirurgião”, disse o director clínico dos cuidados primários de saúde da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), Horácio Feiteiro.

No Alentejo, apenas o Hospital do Espírito Santo de Évora relatou ter “todos os serviços a funcionar normalmente”, segundo fonte contactada pela Lusa.

O coordenador do SIM no Alentejo denunciou que o Hospital de Elvas (Portalegre) “está com falta de médicos na triagem do Serviço de Urgência Básica (SUB), porque só tem um clínico”, e criticou os “cortes cegos na Saúde implementados pelo Governo”.

“Dificultam a fixação de médicos e fazem com que outros abandonem a região”, argumentou, defendendo “a criação de melhores condições” para atrair clínicos para o território.