Turismo espacial: o primeiro porto comercial abriu no Novo México

Fica na cidade de Verdade ou Consequências e estava pronto desde 2014. Foi um grande salto para Richard Branson, um pequeno passo para o turismo espacial.

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Rochard Branson, dono da empresa, e a governadora do Novo México, Michelle Lujan Grisham, do Partido Democrata, na abertura do Spaceport America Virgin Galactic
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Richard Branson queria ir ao espaço até Julho deste ano, mas o desejo do multimilionário britânico que apostou na Virgin Galactic para desenvolver o turismo espacial não se confirmou. O melhor que conseguiu foi abrir esta semana o primeiro spaceport dos EUA, a partir do qual vai gerir a operação comercial dos voos turísticos para fora do planeta Terra. A empresa divulgou no Twitter um vídeo com imagens que revelam diferentes ângulos do exterior e do interior. O director de Design, Jeremy Brown, explica noutros dois vídeos, as opções de interior, para as diferentes zonas, incluindo a sala de controlo de missões.

O porto espacial estava construído desde 2014, numa pequena cidade do Novo México, de 6000 habitantes. Chamava-se Hot Springs e mudou de nome para Truth or Consequences (Verdade ou Consequências, acreditem ou não), nos anos 50, em homenagem a um popular programa que nasceu na rádio e migrou para a TV.

Foram precisos 200 milhões de dólares e 10.233 metros quadrados de terreno desértico para concretizar o projecto do gabinete Foster + Partners. Mas faltava alguém que lhe desse uso. E a Virgin Galactic, que tem uma lista de reservas com 600 pessoas dispostas a pagar 250 mil dólares para irem ao espaço uns minutinhos, decidiu aproveitar a primeira infra-estrutura do mundo pensada para a exploração de voos comerciais deste género.

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O plano de descolagem, voo e aterragem dos aparelhos da Virgin Galactic, a partir do porto espacial do Novo México DR

A transferência para ali começou em Maio de 2019. Branson mantém a construção de naves no deserto do Mojave, na Califórnia, a 1000km de distância de Verdade ou Consequências. Mas em nome do gigantesco investimento que tem feito, desde 2004, o patrão da Virgin Galactic decidiu dar este grande salto até ao Novo México. Ainda assim é um pequeno passo para o turismo espacial; a avaliar pelo andar da carruagem, tão cedo não vamos de férias para uma galáxia muito, muito longe. Nem perto.

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Vista do Gaia Lounge, numa fotografia divulgada no Twitter pela Virgin Galactic Virgin Galactic

Nos anos 60, a corrida ao espaço era um assunto de Estado, uma trincheira da guerra fria entre EUA e URSS. Na corrida à Lua, ganharam os norte-americanos, com a missão Apollo 11, cuja alunagem aconteceu há 50 anos, uma efeméride assinalada em Julho.

Nos bastidores desse acontecimento, houve outra data importante, sobre a qual ninguém fala mas que também celebra meio século, precisamente esta semana: ao fim de 21 dias de quarentena, os tripulantes da Apollo 11 regressaram a casa, mostrando que era possível ir à Lua e regressar e, além disso, prosseguir normalmente com a vida, como se tivesse sido apenas uma viagem de avião.

O que era uma corrida entre blocos geopolíticos é hoje uma batalha entre empresas e multimilionários. As empresas de Richard Branson, Jeff Bezos (Blue Origin) e Elon Musk (SpaceX) são apenas três nomes de um leque de concorrentes ao mercado do turismo espacial para o qual já existem estudos mas faltam ainda infra-estruturas, enquadramento legal (por exemplo, onde começa o espaço, nos 100km de altitude ou abaixo?) e tudo o resto. Só que, ao contrário do que em Janeiro anunciou destemidamente essa “bíblia” da tecnologia chamada Wired – que ousou garantir que “2019 é o ano em que o turismo espacial se tornará finalmente uma realidade” –, este negócio continua mais ou menos a marinar.

Apesar do avanço tecnológico desde a chegada à Lua, apesar das visitas à Estação Espacial Internacional (feitas por sete milionários e que terminaram em 2009), nada é tão célere como um foguetão. Basta pensar, por exemplo, que a propulsão química usada actualmente é, grosso modo, igual à de há 50 anos.

No meio desta corrida, a Virgin fez com êxito um voo com tripulação e passageiro. Foi em Fevereiro e tudo parecia bem encaminhado para que Branson assinalasse o lançamento da operação comercial com um voo em que ele próprio participaria. Porém, tal não aconteceu.

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Momento do voo de Fevereiro até ao espaço com três pessoas a bordo Virgin Galactic

Boris lançou uma rifa para sair da Terra

Para Boris Otter, um suíço de 50 anos que nasceu três meses antes da primeira alunagem humana, o sonho de chegar lá acima também avança lentamente. Boris obteve a licença de piloto comercial em 2001. “Coincidiu com os ataques de 11 de Setembro nos EUA e tive de dar outro rumo à minha vida”, conta Boris, ao telefone, a partir de Genebra.

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Boris Otter persegue o sonho de vestir um fato espacial longe da Terra L'Illustré/Blaise Kormann

Abraçou então outra carreira da aviação, mas em terra, e começou a perseguir o sonho de um dia chegar ao espaço. Só que, a 250 mil dólares por pessoa por voo, parece um desiderato reservado a milionários. E Boris não é um deles. Para contornar isso, lançou em Maio uma campanha internacional que, se tiver sucesso, o levará a ele e a mais cinco pessoas para lá da linha de Kármán, 100km acima do nível do mar, fronteira da atmosfera da Terra e início do espaço exterior.

Depois de uma campanha de angariação de dinheiro (com a qual reuniu 15 mil francos suíços), Boris fundou a Swiss Space Tourism, uma associação privada a que preside. A ideia é esta: Boris quer angariar 20 mil associados; cada um pagará 80 euros para se tornar sócio e recebe em troca uma rifa que dá acesso a um sorteio; serão sorteados mais cinco lugares; a viagem deles será paga com o dinheiro angariado.

O nome de todos os “associados” e apoiantes são publicados no site da associação. E as contas e a actividade da Swiss Space Tourism está sujeita a controlo legal, garante o fundador. Em dois meses, Boris soma 50 sócios. “Está a ser bastante lento mas a campanha está no início e só agora começou a chegar às notícias”, explica. Até ao fim deste mês, Boris oferecerá 100 rifas sem custo e que entrarão no tal sorteio. Para tal, os interessados terão de ajudar a espalhar a palavra pelas redes sociais (as regras estão explicadas no site).

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