Jeffrey Epstein tinha o pescoço partido, o que aprofunda suspeitas

A autópsia ao milionário norte-americano acusado de abuso sexual e tráfico de menores, encontrado morto na sua cela, descobriu um indício que é mais comum em casos de estrangulamento do que em suicídio por enforcamento.

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A morte de Epstein está a ser investigada pelo FBI LUSA/JASON SZENES

O pescoço de Jeffrey Epstein estava fracturado em vários locais. Entre os ossos fracturados estava o osso hióide, que se encontra perto da maçã-de-adão, concluiu a autópsia realizada ao corpo do milionário estava acusado de tráfico e abuso de menores, encontrado morto no passado sábado na prisão em que aguardava julgamento. Supõe-se que se suicidou, por enforcamento mas estas fracturas, embora possam ocorrer em enforcados, são mais comuns em vítimas de estrangulamento.

A notícia é avançada pelo The Washinton Post, citando fontes conhecedoras dos resultados da autópsia.

Epstein, de 66 anos, foi encontrado morto na sua cela numa prisão de segurança máxima em Nova Iorque. O corpo foi encontrado às 7h30 da manhã de sábado, hora local, e transportado para um hospital em Manhattan, onde foi declarado o óbito. Segundo declarações das autoridades locais à estação de televisão norte-americana NBC News, o multimilionário apresentava sinais de “suicídio por enforcamento”.

A causa da morte já está a ser investigada pelo FBI – trata-se de um aparente suicídio, mas o episódio “levanta questões sérias”, disse o attorney general, William Barr.

O osso hióide pode quebrar-se em várias circunstâncias, disse ao Washington Post Jonathan Arden, presidente da Associação Nacional de Médicos Legistas (que não está ligado à autópsia de Epstein). Mas acontece mais frequentemente em estrangulamentos. Quando é encontrado numa autópsia, exige uma investigação mais aprofundada. Neste caso, pode incluir averiguar onde estava o nó, quão apertado era, e quão grande foi a queda do corpo no enforcamento.

A idade do morto também é um factor importante, disse Arden: o hióide começa por ser três pequenos ossos com ligações tipo articulações, que endurecem na meia-idade num formato em “U” que se pode partir mais facilmente. 

Duas semanas antes, Epstein tinha sido encontrado inconsciente na sua cela, com várias lesões no pescoço. Tinha sido colocado em vigilância reforçada por risco de suicídio. Mas na altura da sua morte não estava já nesse regime de vigilância. E, soube-se nos últimos dias, os guardas que deviam vigiá-lo adormeceram horas antes de ele se ter suicidado.

No dia anterior à sua morte, um tribunal tinha autorizado a divulgação de depoimentos até agora sigilosos de outro caso, em que uma das mulheres que acusa Epstein, Virginia Roberts Giuffre, conta como o magnata e a sua amiga e provável cúmplice Ghislaine Maxwell, a instruíram para ter relações sexuais com outros homens.

Apesar do longo historial de acusações de Epstein, o milionário apenas estava detido desde Julho. Nessa altura, agentes do FBI realizaram buscas na sua mansão de sete andares em Manhattan, no âmbito de uma nova acusação de que geria uma rede de angariação de raparigas menores, muitas entre os 13 e os 16 anos, para serem abusadas sexualmente por ele nas mansões que detinha em Nova Iorque e em Palm Beach, na Florida.

Epstein declarava-se inocente, mas nas buscas mais recentes, os investigadores encontraram centenas de fotografias de jovens mulheres, algumas menores de idade, nuas ou seminuas. Várias fotografias estavam guardadas num cofre, em discos com etiquetas escritas manuscritas com detalhes sobre o conteúdo. 

Já em 2008 Epstein tinha passado 13 meses na cadeia, em regime semi-aberto, depois de uma acusação semelhante apresentada na Florida. Na altura, as autoridades recolheram testemunhos de várias das vítimas, e outras provas como mensagens de telemóvel ou facturas de viagens de táxi, mas Epstein escapou à condenação de tráfico sexual de menores e à prisão perpétua.