Uma fronteira é, de forma simples: uma separação, um limite, uma forma de distinguir o aqui do ali, quem pertence e quem não, o bem e o mal.
Nós, humanos, criamos fronteiras para aliviar a nossa mente porque, além de ser um conceito útil para o dia-a-dia, sem fronteiras não suportaríamos o imenso turbilhão de sons, cores e cheiros que por nós passa constantemente. Contudo, a humanidade evoluiu para se viciar e corromper através destas mesmas fronteiras, tanto por excesso como por ausência.
O nosso tempo na Terra, bem como a presença cada vez mais frequente de tecnologia, diluiu-nos fronteiras. Desconcerta-me não ser desconcertado pelo mal, vivemos de forma mais eficiente no momento, mas ignoramos o grande quadro da humanidade, o “estado do mundo”, porque, se dele tivéssemos noção, as consequências seriam piores do que os recentes surtos de “eco-ansiedade” entre as camadas mais jovens.
Também criámos fronteiras naturais ou, mais concretamente, artificiais. Hoje não vivemos como natureza, mas como humanos. Nalgum momento crítico a nossa noção de ser humano separou-se violentamente da de natural, passámos a ser quase unanimemente espectadores com um complexo de Deus perante o mundo natural e separámo-lo drasticamente do mundo que “nós” criámos — o mundo humano que de humano nada tem.
Diluímos o bem e o mal com a nossa dessensibilização, bem como céu e a terra com a nossa exploração insustentável. Como resultado, calcámos uma nova diferença entre uma posição artificialmente elevada do ser humano perante “a natureza”, e por isso vivemos hoje numa época onde o nacionalismo está a crescer rapidamente: mais uma fronteira artificial.
Quais as consequências de tudo isto? Como excelente exemplo temos o “estado do mundo” por meio do nacionalismo, do desrespeito pelo natural e desprezo da nossa sobrevivência.
O governo de Bolsonaro no Brasil é um governo que retira a vida de quem quer altruisticamente salvar o que é de todos nós. Só em 2018, mais de 200 líderes ambientais foram mortos, por um governo corrupto que de forma tão genial como mórbida apela não à habitação, educação, ou saúde, mas sim à segurança de um povo por meio da polícia. O mesmo governo que paradoxalmente ameaça a segurança de toda a humanidade ao destruir um dos seus maiores pulmões, a floresta Amazónia, a uma velocidade de três campos de futebol por minuto — o equivalente a dez vezes a área de Portugal continental num só ano.
Não há melhor incorporação do mal: a diluição total dos valores que chamamos humanos e a corrupção da palavra que personifica a nossa espécie — uma acção humana já não é a justa, mas sim artificial, gananciosa, e corrupta.
Quando o mal se dilui entre nós até ser permitido pela lei, a resistência é o que separa quem se conforma, de quem apenas se conforma com a justiça para todos nós humanos, independentemente de onde estejam, independentemente de quem sejam. Os povos indígenas, bem como os activistas ambientais sul-americanos, estão a ser mortos indiscriminadamente. O que farás tu para proteger quem te quer manter a respirar? Farás soar a tua voz enquanto ainda a tens?