Geração Z: versáteis e impacientes, vão ter que trabalhar até aos 70 (pelo menos)
Nativos digitais, gostam de trabalhar a partir de casa; valorizam um bom ambiente de trabalho e têm grande “capacidade de adaptação”. Não querem sair do país, mas preferem emigrar a mudar de cidade dentro de Portugal. Estão a aprender a desligar — e ainda bem, porque vão trabalhar mais 50 anos.
Estão agora a entrar para o mercado de trabalho e prevê-se que só daqui a 50 anos — na melhor das hipóteses — saiam. Sim, é isso mesmo: 50 anos. São, tal como os millennials (nascidos entre 1981 e 1994), os nativos digitais no mercado de trabalho; mas, ao contrário das outras gerações (que preferem as engenharias), a Geração Z gosta mais de Gestão. Não quer emigrar, mas prefere sair do país a mudar de cidade dentro de Portugal. Procuram, acima de tudo, um bom ambiente de trabalho.
Estas são algumas conclusões do relatório Geração Z: os nativos digitais no mercado laboral, da Hays, uma multinacional inglesa de recrutamento. O estudo debruça-se sobre as diferenças geracionais no mercado de trabalho em 2019, com especial foco na geração nascida entre 1995 e 2012 — a chamada Geração Z. Os 855 inquiridos pertencem à geração dos Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964), Geração X (1965-1980), millennials (ou Geração Y) ou Geração Z, e residem em Aveiro, Braga, Coimbra, Lisboa, Porto, Santarém e Setúbal.
São nativos digitais e não gostam de esperar
É na Geração Z que há mais licenciados (75%), mas são os millennials os que mais mestrados têm (48%). Como escolhem os cursos? Todas as gerações têm como primeiro factor de ponderação o “gosto pela área”, mas para a Geração Z importam mais as saídas profissionais do que o salário. Aliás, “salário” e “vagas do curso” são parâmetros que não têm qualquer influência na decisão da área escolhida. É a Geração X quem mais valoriza o salário (12%).
Quando chegam ao mercado de trabalho, a Geração Z e os millennials não gostam de esperar. Querem ser promovidos ao fim de um ou dois anos — ao contrário dos Baby Boomers e da Geração X, dispostos a aguardar entre dois a cinco anos para subir na carreira. E quando procuram um emprego, além do salário, a Geração Z valoriza o acesso a um seguro de saúde (a segunda preocupação das quatro gerações), a possibilidade de trabalhar a partir de casa, flexibilidade de horários, formação e dias de férias extra. Apesar de todas as gerações acreditarem que conseguiriam trabalhar a partir de casa, são os millennials e a Geração Z, “consideradas nativas digitais”, as que têm mais “expectativas de usufruir das suas utilidades com uma maior flexibilidade de acesso às suas ferramentas de trabalho independentemente da localização física”.
Sai do cenário a preocupação em ter automóvel (cedido pela empresa) para uso profissional e pessoal — aquela que era uma das prioridades para os Baby Boomers e Geração X, mas que tem vindo a “decrescer gradualmente a cada nova geração”.
Sair do país? Não, obrigado
Se os Baby Boomers e a Geração X referem ter experiência como fundamental no mercado de trabalho, os millennials e a Geração Z apontam como pontos fortes a “capacidade de adaptação” e valorizam características como a lealdade, atenção ao detalhe, autonomia, apetência para trabalhar em equipa, criatividade, flexibilidade de horários, planeamento e organização e disponibilidade para viajar. Todas as gerações mostram interesse em trabalhar numa multinacional ou numa “grande empresa nacional”, mas fogem do sector público e das instituições sem fins lucrativos.
Só os millennials colocam a “oferta salarial” à frente do “bom ambiente de trabalho” quando se fala em “características que valorizam num potencial empregador”. A Geração Z coloca também como prioridade a “cultura empresarial”, o “plano de carreira” e a “localização geográfica”. Até porque, ainda que esta seja a geração mais disponível para deixar Portugal, “nenhuma se mostra particularmente disponível” para o fazer. Ainda assim, a Geração Z prefere emigrar a mudar-se para outra cidade dentro do território nacional. “A estabilização da economia portuguesa e o mercado de trabalho cada vez mais dinâmico contribuem para um abrandamento nas tendências de fuga de talento para o estrangeiro nos últimos anos”, explica o relatório. Caso tivessem que sair do país, os Estados Unidos da América, Alemanha e Espanha seriam as escolhas da Geração Z — ao contrário das anteriores, que têm como primeira opção Espanha.
“Apesar da maioria das gerações afirmarem que lhes é fácil desligar do trabalho”, os resultados mostram que não é bem assim: 66% dos Baby Boomers admitiram consultar frequentemente fora do horário de trabalho o telemóvel ou computador da empresa; no caso da Geração X foram 60% e nos millennials 49%. Neste parâmetro não há dados relativos à Geração Z, uma vez que era “necessária experiência profissional”. Contudo, é possível verificar que a tendência tem vindo a decrescer, pelo que é “expectável que a Geração Z ainda o faça com menor frequência”.
Por fim, importa realçar um facto interessante: uma vez que se prevê que as novas gerações trabalhem por “um período de tempo mais longo do que qualquer outra, possivelmente até aos 70 ou 80 anos”, seria de esperar que “demonstrassem interesse em trabalhar em diferentes empresas ao longo da carreira profissional”. No entanto, a Geração Z é a que quer trabalhar no menor número possível de empresas — 52% dos inquiridos disse querer trabalhar em menos de cinco”. Já os millennials, Baby Boomers e Geração X ambicionam passar por cinco a dez empresas ao longo da carreira.