Viagem à Nicarágua, um paraíso natural esquecido pelo turismo
A instabilidade política e a insegurança desmotivam os turistas e desaconselham as viagens. A Nicarágua tem estado fora das rotas turísticas. Mas Francisco Antunes decidiu ir por sua conta e risco conhecer o melhor do país. Aqui, resume as suas descobertas.
De 14 de Junho a 16 de Julho estive a viajar na Nicarágua, metade dos 32 dias com dois amigos, o Pedro Videira e o Salvador Araújo, com o objectivo de conhecer e fotografar um país e uma cultura diferentes dos que já tinha visitado.
Sem planear muito a minha viagem, aterrei no aeroporto de Manágua, a capital do país, uma cidade conhecida tanto pela insegurança como pelo caos no trânsito.
Da capital, viajando de transportes públicos, conhecidos como chicken bus, rumei até Masaya, o meu primeiro destino, e que é uma pequena cidade a cerca de uma hora da capital. É conhecida pelo seu vulcão activo, o vulcão Masaya, pelas lagoas de origem vulcânica, pelos seus mercados tradicionais e pela sua cultura própria.
Após alguns dias a visitar esta pequena parte da Nicarágua, decidi viajar até às ilhas caraíbas da Nicarágua. Depois de muitas horas de autocarro cheguei a Bluefields, uma cidade piscatória e portuária na costa caraíba que faz a ligação às ilhas. Daqui, voei para as ilhas do Milho (Maíz) num pequeno avião de 12 lugares operado por uma companhia local. Achei uma experiência incrível voar em baixa altitude por cima do paradisíaco mar das Caraíbas e de algumas ilhas.
Chegando aqui, há duas opções. Ficar pela ilha ou viajar até à Pequeña Isla del Maíz, navegando mais uma hora num barco pequeno. Decidi-me por esta última porque, ao contrário da ilha maior, esta não tem carros nem outros veículos, é uma ilha muito mais virgem, com águas e paisagens paradisíacas, que se pode visitar toda a pé. Diz-se que esta é uma das ilhas mais virgens das Caraíbas.
Alguns dias depois, viajei até Isla de Ometepe, uma ilha vulcânica no lago Nicarágua que tem dois vulcões, Maderas e Concepción. Um lugar incrível rodeado de natureza (praias, lagos, vulcões e pequenos pueblos e de uma diversa vida selvagem). Aqui é possível fazer vários trekkings e decidi-me por subir o vulcão Maderas (nota: cinco horas a subir e quatro a descer...)
Depois de Ometepe, viajei pela costa do Pacífico por praias vazias rodeadas por montanhas incríveis. Nestes dias conheci belas praias, entre elas uma das mais bonitas do país, a Playa Maderas, e Popoyo, que é conhecido mundialmente por ter ondas de elevada qualidade para surf e outros desportos aquáticos.
A última paragem foi na bela León, cidade colonial cheia de cores e de vida dia e noite. Considero também esta cidade especial, pois está rodeada por alguns dos mais bonitos vulcões de América Central e também por lindíssimas praias a 20 minutos de distância.
Em León, além de explorar a cidade, visitando algumas das suas principais catedrais, e também de passear pelas ruas coloridas, decidi subir dois vulcões, Cerro Negro e Telica.
O Cerro Negro tem a particularidade de ser o único vulcão no mundo onde é possível descer numa prancha, o que globalmente se chama de volcano boarding. É uma experiência incrível descer um vulcão a 60km em cerca de um minuto, enquanto a subida são cerca de duas horas. A paisagem deste local também é fantástica.
O vulcão Telica é conhecido pela sua forte actividade e pela proximidade a que podemos estar da cratera, de onde podemos sentir o cheiro a enxofre e também observar lava. Durante estas duas viagens a vulcões foi possível observar imensa fauna e flora locais.
Particularmente devido à tensão política e aos conflitos que deflagraram em 2018, em todos os lugares que visitei senti um vazio de turistas – isto num país com muito potencial para o turismo. Mas a realidade é que o país, embora parecendo preparado, foi esquecido pelos turistas. Na maior parte dos locais, eu era um dos únicos visitantes.
Para terminar, e ao contrário do que eu pensava e li sobre a Nicarágua, a minha experiência foi a de encontrar um país bastante seguro, com um povo genuíno e muito bondoso. Durante toda a minha viagem não tive qualquer tipo de problema nem senti qualquer tipo de insegurança. Todas as pessoas que encontrei só me ajudaram a ter uma viagem perfeita. O único lugar em que me senti um pouco desconfortável foi na capital, Manágua, mas mesmo assim sem nada de negativo a assinalar.
Francisco Antunes (texto e fotos)