Uns vêm do Norte, outros do Sul. Há quem venha da Ásia, Europa ou América, e há também quem não volte. Estamos em tempo de regressos, de abraços e memórias.
Com o calor começam as chegar aqueles que emigraram, que se fizeram à estrada por não encontrarem aqui a dignidade que a vida lhes deveria proporcionar. Atravessam a fronteira com a saudade do cheiro da terra que deixaram, das suas pessoas e costumes, da comida, da mãe, do pai e do irmão. Chegam com ganas de viver, de recordar e de fazer tudo aquilo que não puderam durante o resto do ano. Muitos têm saudade do Sol porque, por mais que neguemos, o Sol de Portugal é diferente do resto do mundo. Vêm eufóricos, inebriados pela alegria de regressar, muitas vezes tomados por estrangeiros no seu país, são olhados com desconfiança por quem cá ficou. Não é fácil gerir. Uns são corajosos porque se foram e outros porque ficaram, apesar da valentia não se medir por geografias.
Há um Portugal enorme fora das nossas fronteiras, um país que se desdobra por muitos países e continentes, um povo que trabalha por longas jornadas sem nunca esquecer do sítio de onde foi obrigado a sair. Por muito que tentemos criar a ideia glamorosa de que a globalização e a flexibilidade são pano de fundo para o acumular de experiências e realidades fora do país, não nos podemos esquecer que ninguém sai do sítio onde está bem. Se for por opção, o trabalho fora do país é uma oportunidade, mas sendo como uma necessidade, como é na maioria dos casos, é uma espécie de exílio. Um exílio económico.
Eles regressam para férias nestes dias, animam as festas das aldeias e dão cor a um Portugal profundo que, com o tempo, se tem vindo a tornar cinzento. Oxalá ficassem todo o ano. Oxalá pudéssemos receber os nossos emigrantes com uma perspectiva de vida como aquela pela qual tanto trabalham, lá longe dos seus. O seu regresso definitivo é um futuro que o país deveria ambicionar e acariciar. São milhões de portugueses que acrescentam valor a qualquer país por onde fiquem, que criam e inovam, que erguem cidades e constroem pontes, que pensam e fazem acontecer, que sonham e projectam, que cantam e compõem, que vivem e fazem viver. Imaginem estes milhões, juntos a outros tantos, no país onde nascemos e onde temos direito a ser felizes, se assim o entendermos, a trabalhar em conjunto por um país mais justo. Mas que ideia bonita.
Já passaram alguns anos desde que uns nos mandaram emigrar, mas não os suficientes para que deixemos de atravessar aquela fronteira que nos separa de quem queremos, para fazermos o que podemos para a construção de uma vida melhor. São pais e mães que emigram para que os seus filhos possam estudar, são filhos que depois de estudados emigram para poderem ambicionar algo de melhor e mais justo. Continuamos a partir por esse mundo fora, e por lá ficam, sem perspectiva de regresso, aqueles que por cá não conseguem pôr o pão na mesa.
Não é justo que uns tenham de partir enquanto outros se passeiam com os bolsos bem forrados. Não é normal que para que um rico possa ser rico, muitos tenham de emigrar e outros que ser explorados, cá, no nosso país. Não saberei dizer o que é pior.
Cá teremos de lidar com as nossas decisões, com as nossas opções políticas que nos continuam a empurrar até lá fora, cá teremos de reflectir sobre o país que temos e aquele que queremos.
No entretanto, vamos brindando com Vinho do Porto com aqueles que que por cá vão chegando.