No Zimbabwe, há 2,5 milhões de pessoas à beira de “morrer de fome”
Sem luz, com falta de água e sem acesso a alimentos, os zimbabweanos estão a precisar de ajuda internacional urgente. PAM lançou campanha para angariar cerca de 300 milhões de euros.
No princípio de Julho, o presidente Emmerson Mnangagwa afirmou que “ninguém deve morrer de fome” no Zimbabwe e, apesar da forte seca que afectou as colheitas, prometeu conseguir mais de 800 mil toneladas de cereais para suprir parte das necessidades alimentares da população. Um mês depois, esta quarta-feira o Programa Alimentar Mundial (PAM) lançou um programa de angariação de 331 milhões de dólares (295 milhões de euros), porque há 2,5 milhões de pessoas em risco de morrer de fome.
A maior agência humanitária do mundo calcula que cinco dos 16 milhões de zimbabweanos precisem de ajuda alimentar e que metade deles esteja à beira de “morrer de fome”. A situação é tão grave que, se nada for feito, o número de pessoas em risco de morrer de fome será de 5,5 milhões de pessoas no princípio de 2020.
Com o último período agrícola afectado por uma forte seca por influência do El Niño, um país que já sofria de escassez de produção está agora desesperado para alimentar a sua população. Esta pouco tem para comer, só tem luz eléctrica durante seis horas por dia (a falta de chuva deixou as barragens no limite e as autoridades viram-se obrigadas a racionalizar o consumo de energia) e com acesso restringido a água potável – mais de metade dos 4,5 milhões de habitantes de Harare, a capital, só tem água uma vez por semana.
No Leste do país, por outro lado, ainda estão as marcas da passagem do ciclone Idai, em Março, que afectou 570 mil pessoas. Tudo junto põe o país à beira do precipício económico, com a taxa de inflação a situar-se em Junho nos 176%, depois de 97,85% em Maio, levando as autoridades a suspender a actualização da taxa até ao final do ano, o que deixou as pessoas com receio de que estejamos perante mais uma espiral de hiperinflação como a que afectou o país entre 2007 e 2009 (altura em que o Governo deixou de imprimir moeda).
O Presidente do Zimbabwe decretou na terça-feira a seca como um desastre nacional, primeiro passo para procurar ajuda externa através das Nações Unidas. “A declaração abre caminho para o lançamento de um apelo do país para ajuda de emergência por causa da seca”, explicou a ministra da Comunicação, Monica Mutsvangwa, citada pelo The Chronicle.
Os quase 300 milhões de euros visam satisfazer as necessidades alimentares de pelo menos 3,7 milhões de pessoas até Abril de 2020 (altura da próxima colheita) explicou a ministra. De acordo com o coordenador da ONU no Zimbabwe, Bishow Parajuli, a estratégia foi delineada em conjunto com as autoridades do país e está focada em suprir as falhas nos esforços do Governo e põe em primeiro lugar o auxílio de emergência à população em risco de fome.
A União Europeia anunciou uma verba adicional de dez milhões de euros e os EUA já anunciaram um incremento de 45 milhões de dólares (40 milhões de euros) na sua ajuda. O Reino Unido, antiga potência colonial, adiantou-se aos demais e no mês passado incrementou o seu auxílio em sete milhões de euros.
A seca prolongada resultou numa redução de 50% na produção anual média de milho, base alimentar do país, obrigando o Governo a recorrer às suas reservas estratégicas de cereais que estão a esgotar-se a passos largos.
Na semana passada, o ministro das Finanças, Mthuli Ncube, disse que, desde Janeiro, o executivo já providenciou auxílio alimentar a 757 mil famílias, tanto em zonas rurais como urbanas. Os cálculos do executivo é que se consigam juntar 852 mil toneladas de alimento, precisando que a comunidade internacional ajude em mais 900 mil toneladas para suprir as necessidades da população.