Activista mas tão mais do que isso: a obra de Toni Morrison para além da raça e do género
Um documentário que acaba de chegar às salas de cinema norte-americanas talvez permita recolocar a autora no centro do fervilhante debate sobre a condição afrodescendente em curso na América e fora dela. Mas seria um erro reduzir a obra de Toni Morrison às questões da identidade negra e da opressão da mulher, comentam Inocência Mata e Yara Monteiro.
Toni Morrison ri-se a contar como ninguém era capaz de pronunciar o nome dela, Chloe, quando criança. Farta, decidiu-se pelo segundo nome, Anthony, e anos mais tarde juntou-lhe o apelido do marido, Morrison, que manteve após o divórcio. Assim nasceu o nome. Estamos no início de Toni Morrison, The Pieces I am The Pieces, do fotógrafo e cineasta Timothy Greenfield-Sanders, apresentado na última edição do Festival de Sundance e estreado nas salas de cinema norte-americanas a 21 de Junho. O documentário pretende ser um retrato intimista capaz de passar a força, o talento, a originalidade da primeira e até agora única mulher negra a vencer o Prémio Nobel da Literatura. Um feito? Sim, mas Toni Morrison não se resume a uma escritora que transformou o olhar sobre a identidade negra, ou sobre a condição da mulher, ou, mais esmiuçadamente, sobre a condição histórica da mulher negra na América. É uma autora universal que, ainda nesse documentário, e a propósito do nome, acrescenta que os nomes dividem a pessoa que está lá fora, e se expõe, e a que não entra em documentários.
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