Miguel Rio Branco põe-nos as entranhas da cidade nas mãos

Habituado a percorrer cidades por todo o mundo, Miguel Rio Branco olha para a obra fotográfica que aí foi construindo nos últimos 40 anos. Em Maldicidade ensaia um fluxo de imagens intenso, quase histérico, numa relação de amor/ódio com espaço urbano. É um livro que não só nos mostra a ruína da cidade enquanto ideal, como o seu falhanço enquanto espaço de humanismo.

Foto
Miguel Rio Branco

Brilha o ouro dos dentes postiços na boca; o das argolas nas orelhas; e o do colar ao pescoço. Brilha o sorriso aberto e franco de uma mulher de blusa branca. Brilha tudo tanto que à primeira vista podemos ficar encandeados e não perceber logo que a palavra inventada “maldicidade”, que dá título ao último fotolivro de Miguel Rio Branco (Las Palmas de Gran Canaria, 1946), está bem mais perto de um mal d’amour de que de uma joie de vivre. Olha-se mais devagar para a capa e a contradição entre o que vemos e o que lemos vem mais ao de cima, impele-nos a tentar descobrir as razões desta armadilha de partida sob forma de imagem e de jogo morfológico entre as palavras “maldição” e “cidade”. E o que descobrimos depois é que este sorriso é uma aparição rara num folhear de negrume, solidão, abandono, pobreza, margens, alienação, decadência, desamparo e extenuação — Maldicidade é o resumo de Miguel Rio Branco para mais de 40 anos a fotografar cidades por todo mundo. Cidades que nunca dormem, cidades exaustas e sempre prontas a expelir quem não se encaixa na alta rotação com que estão programadas.

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