Greve dos camionistas é teste de stress
O Governo será avaliado pela sua capacidade de montar planos de contingência para os sectores mais sensíveis, de explicar muito bem aos portugueses os procedimentos para minorar os efeitos da greve e de fazer cumprir os serviços mínimos
Os portugueses estão de olhos postos no horizonte à espera de uma tempestade que tem data marcada: 12 de Agosto, dia da greve convocada pelos motoristas de transporte de matérias perigosas.
E há boas razões para fitar esse horizonte próximo, porque está ainda bem presente a trapalhada que foram os dias da greve que apanhou todos de surpresa nas férias da Páscoa. Mesmo que agora estejamos avisados, os receios de vários sectores da economia mostram que ninguém está imune, especialmente se a greve se prolongar.
Mas não é só ao manómetro de combustível que os portugueses devem estar atentos. O conflito que parte de um sindicato que tem o poder de operar num sector crucial na vida de milhões de portugueses, que se exclui de integrar um consenso mais alargado na classe dos motoristas e que namora um certo radicalismo na atitude e na acção levanta perturbantes questões.
O Governo que andou aos tropeções da última vez, será avaliado pela sua capacidade de montar planos de contingência para os sectores mais sensíveis, de explicar muito bem aos portugueses os procedimentos para minorar os efeitos da greve e de fazer cumprir os serviços mínimos.
Mas também deve ser avaliado pela sua cabeça fria. Se do outro lado poderá estar algum radicalismo é muito duvidoso que acrescentar radicalismo venha a ser caminho para uma solução. Falar de mudanças à lei da greve no meio de um conflito é diminuir a capacidade de ter uma reflexão profunda e optar por agir casuisticamente. Falar da participação de militares no abastecimento quando ainda decorrem negociações pode ser forma de pressão, mas mostra muito pouca convicção na via negocial e o mesmo pode ser dito sobre um apelo aos portugueses para encherem os depósitos quando ainda faltavam quase três semanas para a data da greve.
Tudo junto, mostra que o Governo está pouco convicto de que seja alcançada solução que evite a greve. Mas por muito tentador que possa ser, aquilo que António Costa e o seu executivo não devem fazer é lançar a população contra os grevistas mesmo que constatem que ela suscita um “sentimento nacional de revolta”. Por muito que custe, a defesa do direito à greve é mais importante que cavalgar uma qualquer onda popular contra os camionistas. O Governo deve ser firme, mas rigorosamente dentro daquilo que determina a lei.