A carnificina americana
Na América, mata-se mais do que no Iémen. Isto não nasceu com Trump. Mas o discurso de ódio contra as minorias, de que Trump tem feito uso e abuso, é um poderoso incentivo a estas e a novas carnificinas.
O procurador de El Paso disse que vai investigar a matança como um acto de “terrorismo doméstico”. É evidentemente terrorismo o que se passou em El Paso e poucas horas depois em Dayton. Os investigadores suspeitam também de um crime de ódio – um manifesto atribuído ao atirador diz que quer acabar com os imigrantes.
As carnificinas são comuns nos Estados Unidos, onde a poderosa associação americana em defesa do livre uso de porte de arma ganhou ainda mais força desde que Donald Trump chegou ao poder. Ainda este ano, o Presidente assinou uma lei que flexibilizava o acesso a armas a pessoas com doenças mentais. Curiosamente, a Casa Branca recusou-se a revelar a foto oficial desse acordo.
Na América, mata-se mais do que no Iémen. Isto não nasceu com Trump e são co-responsáveis todos os antigos presidentes que nunca conseguiram enfrentar a poderosa corporação pelo livre uso de armas. Mas o discurso de ódio contra as minorias, de que Trump tem feito uso e abuso, é um poderoso incentivo a estas e a novas carnificinas. Beto O’Rourke, um dos candidatos a candidato à nomeação pelo Partido Democrata, dizia ontem que Trump era “um supremacista branco”. Cory Booker, outro candidato democrata, concorda que Trump é um supremacista branco e pede-lhe responsabilidades no massacre. Sim, só um supremacista branco se teria dirigido a quatro congressistas não brancas, como fez Trump no mês passado, dizendo-lhes: “Voltem para a vossa terra.” Todo o discurso de Trump é um incitamento aos crimes de ódio. Trump é co-responsável pela chacina deste fim-de-semana.
Mas não é o único responsável: o Congresso americano que se recusa a enfrentar o poderoso lobby das armas é também responsável pela carnificina. No século XXI, os Estados Unidos da América mantêm em vigor leis do tempo do Faroeste e encaram, pelas omissões contínuas que se mantêm, as mortes como uma coisa natural, exactamente como no Velho Oeste. Elisabeth Warren, uma das pré-candidatas do Partido Democrata, pediu “acção urgente para acabar com a epidemia da violência das armas”. Não especificou que acção urgente é essa. Bernie Sanders foi mais longe e apelou ao Congresso: “Depois de cada tragédia, intimidado pelo poder da NRA, o Congresso não faz nada. Isso tem de mudar.”
Enquanto isto, o supremacista branco deu as condolências às famílias, via Twitter, e ainda não apareceu em público. Deverá estar a jogar golfe. Afinal, em Maio, num comício, questionou a assistência sobre o que é que se podia fazer para parar os imigrantes na fronteira com o México. Um dos presentes disse: “Fuzilem-nos.” Trump riu-se. Está gravado em vídeo, para a história.