Porto de Lisboa quer transferir para o Tejo parte do transporte de mercadorias que se faz por estrada
Dragagens no Tejo vão avançar para criar corredor para navios de mercadorias até Castanheira do Ribatejo. Para a ministra do Mar, é preciso retomar a movimentação fluvial de mercadorias para reduzir a entrada e saída de camiões de Lisboa e a emissão de gases com efeito de estufa.
Transformar o Tejo numa via que seja verdadeiramente navegável, onde grandes navios de mercadorias possam tirar vantagem desta rota alternativa e, ao mesmo tempo, reduzir o tráfego rodoviário na cidade provocado pelas descargas no Porto de Lisboa. Para que se cumpra este objectivo — assumido pelo Governo e pelo Porto de Lisboa — é preciso criar condições de acesso ao porto fluvial junto à plataforma logística de Castanheira do Ribatejo, no concelho de Vila Franca de Xira, o que passará por fazer dragagens no rio para aprofundamento do canal, de modo a que os navios possam circular em segurança.
“O estudo da navegabilidade fluvial do rio Tejo – do corredor fluvial da cala das Barcas até ao limite montante da área de jurisdição do Porto de Lisboa – em articulação com a sua extensão natural até à plataforma logística de Castanheira do Ribatejo, é fundamental para retomar a movimentação de mercadorias no rio Tejo, incluindo a carga contentorizada dos terminais situados na margem Norte, promovendo o crescimento do porto e evitando a entrada de carga pesada no tecido urbano”, notou a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, no final da apresentação do Estudo de Mercado, de Avaliação Económica, Financeira e de Operacionalização da Navegabilidade no Estuário do Tejo, encomendado pelo Porto de Lisboa. “Ao mesmo tempo, a concretização deste projecto vem permitir a integração dos terminais situados na margem Sul, os actuais e o futuro Terminal do Barreiro, consolidando o Porto de Lisboa como um porto multimodal, desenvolvido nas duas margens do rio”, notou Ana Paula Vitorino.
Há muito que se fala na possibilidade de ter transporte de contentores por barcaça ao longo dos cerca de 40 quilómetros do Tejo que separam Lisboa de Castanheira do Ribatejo. O estudo, apresentado ontem, conclui que há condições de navegabilidade mas para isso terão de ser feitas dragagens do rio para se aprofundar um canal à cota -4,0 m(ZH). Ainda que tenha a “desvantagem de corresponder a um investimento maior, permite captar mais tráfego, ter uma gestão da oferta de transporte mais flexível (porque não é limitada à maré para as barcaças hoje existentes)”, refere o estudo. Já é possível fazer o transporte de mercadorias até Castanheira. No entanto, as viagens estão dependentes das marés e nem todas as barcaças podem navegar.
“O que traz de novo é nós termos uma alternativa ao transporte ferroviário e ao transporte rodoviário nas entradas e saídas do Porto de Lisboa”, notou Ana Paula Vitorino, explicando que qualquer embarcação poderá acostar transferindo as mercadorias para a plataforma logística. Dali, podem depois ser distribuídas de comboio ou, dependendo do destino, em camião, “mas não atravessando zonas urbanas nem zonas congestionadas”, sublinhou a governante.
“[Os camiões] saem para a Avenida de Ceuta, para o IC17 já de si muito congestionado. O que queremos é descongestionar Lisboa e toda esta malha urbana, além de diminuir os impactes ambientais”, notou, exemplificando que uma barcaça transporta, em média, entre 80 e 100 contentores o que retira da estrada um número equivalente de camiões. Isto “vai permitir uma redução significativa da emissão de gases com efeito de estufa”.
De acordo com as estimativas da ministra do Mar, as obras na plataforma logística de Castanheira do Ribatejo, que ficarão a cargo do Grupo ETE, devem arrancar em Maio ou Junho do próximo ano e a estimativa é que a obra demore entre seis e oito meses. “Da parte da infra-estrutura de Castanheira do Ribatejo estará tudo em possível funcionamento no início de 2021”, disse. No final de 2021, também as dragagens deverão estar concluídas.
Em 2017, nos seus 15 terminais, o Porto de Lisboa movimentou mais de 12 milhões de toneladas, essencialmente de granéis sólidos (como cereais) e carga em contentores. Para a presidente do Porto de Lisboa, Lídia Sequeira, este é “um projecto essencial para um porto polivalente que se desenvolve ao longo das duas margens do Tejo” e que “permitirá associar o transporte fluvial ao transporte marítimo facilitando o transporte entre as duas margens”.