Perto de 14 mil doentes com hepatite C estão curados

Desde 2015 já foram autorizados cerca de 25 mil tratamentos, refere o relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais. Direcção-Geral da Saúde vai publicar norma que pretende facilitar acesso ao início do tratamento.

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Rui Gaudêncio

Portugal está muito próximo de ter 14 mil doentes com hepatite C curados. Os dados fazem parte do relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais, a que o PÚBLICO teve acesso. Desde 2015, quando Portugal assinou um acordo com a indústria farmacêutica para acesso aos medicamentos inovadores para tratamento da hepatite C, e até ao primeiro semestre deste ano, já foram autorizados cerca de 25 mil tratamentos.

O relatório, que vai ser apresentado nesta segunda-feira em Lisboa, adianta que desde 2015 até 30 de Junho de 2019 “já foram autorizados 24.934 tratamentos, dos quais 23.111 já foram iniciados e 18.751 finalizados”. Quanto a resultados, “verifica-se que 13.683 estão curados (96,5%) contra 501 doentes não curados (3,5%)”.

O mesmo documento diz que “no primeiro semestre do corrente ano já foram autorizados 1987 tratamentos, tendo já sido iniciados 1504”. Os números serão já superiores, tendo em conta a última actualização do Infarmed que refere que até ao dia 25 de Julho foram autorizados 25.089 tratamentos, iniciados 23.181 e estão dados como curados 13.895 doentes. Doentes não curados são 507.

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Em 2017 e 2018, de acordo com o relatório, foram comunicadas 16 e nove mortes, respectivamente, associadas à hepatite C, mas o relatório admite a existência de subnotificação, uma vez que assume a causa de morte e não a sua etiologia.

Demoras no acesso

A directora do programa, Isabel Aldir, destaca o caminho percorrido nos últimos anos, que a deixa “convicta” que o país vai conseguir alcançar a meta da Organização Mundial da Saúde de redução em 90% dos novos diagnósticos de hepatites B e C e reduzir em 65% as mortes por estas duas doenças. “Acho que a trajectória tem sido relativamente rápida, honesta e empenhada”, diz.

Mas salienta que há trabalho a fazer. Na próxima semana, a Direcção-Geral da Saúde deverá emitir uma norma relativamente ao tratamento da hepatite C. “Vai estar contemplada a não obrigatoriedade de haver um exame para avaliar o grau de fibrose. Não quero que ninguém esteja pendente porque no seu hospital não há possibilidade de fazer um fibroscan. Não estamos a prejudicar as pessoas, estamos a facilitar o acesso ao tratamento”, explica Isabel Aldir. Outra questão que também vai estar na norma é a indicação de que o médico deve fazer o pedido imediato do início do tratamento assim que tenha toda a informação necessária sobre o doente.

Segundo o relatório, “o tempo médio para autorização do tratamento era, a 30 Junho, de 26 dias e o tempo médio para início de tratamento de 72 dias”. Várias associações de doentes denunciaram demoras no acesso, o que levou Isabel Aldir recentemente ao Parlamento para explicar a situação. A médica admite que existem hospitais onde o tempo para início do tratamento é maior e que está “a fazer uma monitorização mensal” para detectar precocemente estes casos e intervir.

O documento também salienta a necessidade de se apostar na eliminação da doença em grupos de maior risco, como os consumidores de drogas. Aqui, com a criação de uma estratégia nacional. “Já temos diversos projectos de hospitais que se associaram a organizações para se deslocarem aos locais, fazerem a consulta, as colheitas de sangue e depois, com estas organizações, dispensar a terapêutica quando vão, por exemplo, fazer troca de seringa. O nosso desejo é, a partir destes exemplos, tirarmos lições para depois articular com as estruturas da área dos consumos e termos uma forma comum de trabalhar em todo o país. Acho que estaremos em condições de o fazer ainda este ano”, diz.

Convite à vacinação

O relatório passa também em revista as restantes hepatites, entre as quais a B, para a qual Portugal tem uma vacina gratuita no Programa Nacional de Vacinação desde 1994. As taxas de vacinação aos 12 meses de idade, diz o relatório, estão nos 98%. O documento assinala a notificação de 349 casos de hepatite B em 2017 e 2018 e recomenda que se percebam quem são os doentes infectados com mais e menos de 37 anos de idade.

Mas um trabalho que está já a ser feito é o do apelo à vacinação. “De um modo geral, a população que temos em risco é a população com 37 ou mais anos de idade. As pessoas nestas faixas etárias, com situações de risco — utilizadores de drogas, homens que têm sexo com homens —, devem ser vacinadas. Havendo uma vacina disponível, temos a obrigação de não perder nenhuma oportunidade para vacinar.”

A maioria dos casos notificados, afirma Isabel Aldir, são de imigrantes de países onde a hepatite B é endémica. “Também temos de trabalhar muito com as associações e o Alto Comissariado para as Migrações, porque precisamos de conseguir chegar a estas pessoas, identificá-las, trazê-las para os serviços de saúde, pô-las em tratamento.”

Quanto à hepatite A, depois do surto de 2017, o número de casos regressou a valores anteriores. Mas fruto da melhoria das condições sanitárias a imunidade de grupo está a perder-se. Ainda assim, a vacina não está recomendada a ser feita de forma sistemática a toda a população. “Há grupos de pessoas que, por circunstâncias variadas, podem ter um risco acrescido de contactarem com o vírus. Sempre que contactam com serviços de saúde formais ou informais é-lhes proposto a vacinação”, explica.

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