Estudantes usam casca de amendoim para absorver mercúrio da ria de Aveiro — e ganham prémio em Macau

Três estudantes da Escola Secundária Homem Cristo, em Aveiro, venceram esta sexta-feira três prémios numa competição de ciência em Macau, onde participaram 588 jovens de 56 países.

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As três alunas vencedoras do prémio DR

Três estudantes da Escola Secundária Homem Cristo, em Aveiro, ganharam esta sexta-feira o primeiro prémio do Concurso de Inovação em Ciência e Tecnologia para Adolescentes na China (CASTIC, na sigla em inglês) na categoria de projectos internacionais. O concurso decorreu em Macau e terminou esta sexta-feira.

Inês Lourenço, Jéssica Valente e Maria João Marcelino, alunas do 12º ano, desenvolveram nos últimos meses o projecto “Mercúrio na ria de Aveiro: quais os impactos e possíveis soluções?”, uma investigação na área da biologia. Tendo como base a utilização de cascas de alguns frutos secos, em particular do amendoim, as alunas quiseram perceber se estes resíduos eram capazes de absorver, ainda que em pequenas quantidades, o mercúrio presente na ria de Aveiro.

A ideia inicial surgiu de outro estudo da Universidade de Aveiro que foi divulgado em 2017 e que dava conta da detecção de níveis elevados de mercúrio em parturientes da região, acima dos níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde, e que podiam afectar não só a saúde de adultos, mas principalmente a dos bebés. 

O distrito de Aveiro é conhecido pela contaminação histórica de arsénio e mercúrio, fruto da vasta indústria química estabelecida na região desde a década de 50 do século passado. Só no século XXI é que os resíduos deixaram de ser descarregados directamente para o ambiente, daí as alunas aveirenses terem tentado encontrar uma solução para o problema. 

“Inicialmente, começaram por usar cascas do amendoim como medida absorvente e colocaram-nas nas águas da ria. Acabaram por concluir que, de alguma forma, a água saiu menos poluída por aquele elemento químico”, explica a docente das alunas, Ana Figueira, ao PÚBLICO.

As estudantes já tinham participado na 13.ª edição da Mostra Nacional de Ciência que decorreu no fim de Maio na Alfândega do Porto. Ao vencerem o terceiro lugar deste concurso, puderam participar em várias competições para jovens cientistas que já aconteceram ou vão ainda acontecer até 2020, incluindo o que se realizou agora em Macau. O projecto recebeu ainda no CASTIC dois outros galardões: o Prémio Especial Gao Shiqi e o Prémio Especial de Inovação em Ciência e Tecnologia da Universidade de Macau.

De acordo com Ana Figueira, o objectivo das alunas é que as indústrias das zonas de Aveiro possam aproveitar a descoberta para diminuir os níveis de mercúrio, que, em muitos casos, são descarregados para a ria, com um resíduo que noutros casos não seria aproveitado. “Como venceram este prémio internacional, esperamos que vá por esse país fora, mas o objectivo é que as indústrias coloquem as águas residuais em tanques juntamente com estas casas para que antes das descargas essa quantidade de mercúrio seja absorvida”, explica.

O CASTIC é uma iniciativa organizada para estudantes amantes da ciência, com idades entre os 12 e os 20 anos e decorreu este ano entre 20 e 26 de Julho, em Macau. Segundo um comunicado da Fundação da Juventude, promotora do concurso, este prémio “representa um contributo muito importante na visibilidade internacional dos seus projectos e um marco determinante na projecção internacional da juventude”. Na edição desde ano do CASTIC participaram 588 jovens de 56 países.

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