Pescadores criticam descarga poluente no Estuário do Douro

Águas do Porto não conseguiu identificar origem da descarga.

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Pescadores foram confrontados com um cenário “dantesco” de poluição no rio e com um cheiro indescritível Diogo Baptista

A descarga, no Estuário do Douro, em Lordelo do Ouro, de “milhares de metros cúbicos de papel higiénico, pensos e outras matérias poluentes”, ao longo de três horas consecutivas, nesta segunda-feira, dia 22 de Julho, originou protestos da Associação dos Pescadores Profissionais e Desportivos do Cais do Ouro (APPDCO).

Avelino Freitas, presidente da associação, mostrando-se revoltado com a situação e com o facto de nenhuma entidade ter conhecimento da mesma, admitiu que “o rio era um espectáculo dantesco”. De acordo com o pescador de 66 anos, “os maus cheiros não [os] deixavam sequer aproximar do local”.

Para a Associação dos Pescadores Profissionais e Desportivos do Cais do Ouro, tratou-se de um “grave atentado ambiental do estuário do rio Douro”, que começou pelas 11h de segunda-feira. Os pescadores contactaram a Polícia Marítima (PM), que se deslocou ao local ainda no próprio dia.

Num comunicado enviado ao PÚBLICO, a Câmara do Porto revelou que “a empresa municipal Águas do Porto teve conhecimento da situação reportada através da Polícia Marítima, que visitou a ETAR de Sobreiras na tarde do dia 22”. Contudo, apesar de “os agentes [trazerem] fotografias de água com detritos, não [foi] possível identificar qualquer ponto de referência que permitisse reconhecer o local exacto da descarga, nem mesmo o rio de que se tratava”, pode ler-se na mesma informação.

A Polícia Marítima verificou, in loco, o normal funcionamento de todos os mecanismos da ETAR e “não [foi] verificada qualquer anomalia”. Assim, e como explicou a Câmara do Porto na nota referida, até ao momento da visita da PM à ETAR de Sobreiras, “não havia sido reportado qualquer incidente”, tendo apenas a ETAR tido conhecimento do sucedido “através do email que também foi enviado às redacções”.

Nesse sentido, “a Águas do Porto declina qualquer responsabilidade relativa à situação relatada no email da APPDCO”.

Esta já não é a primeira vez que algo do género acontece. Já no início deste mês, Manuel Bagulho, de 66 anos, um dos moradores da Rua João Baptista Lavanha, no Porto, se queixava dos maus cheiros que se faziam sentir nas zonas circundantes à ETAR de Sobreiras, na freguesia de Lordelo do Ouro. Na altura, a Câmara Municipal do Porto revelou ao PÚBLICO que a ETAR poderá ter, em algum período, “libertado odor para o exterior”, até porque estaria em curso “uma intervenção de manutenção e limpeza de um dos órgãos de tratamento”. No entanto, garantiu estar a solucionar o problema.

Também em Junho, a Águas do Porto recebeu uma chamada de atenção por parte de uma moradora para os maus cheiros sentidos no exterior da ETAR, algo que, segundo a empresa municipal, “se ficou a dever a uma avaria no sistema de doseamento de hipoclorito de sódio e que provocou a diminuição da eficiência de tratamento dos odores”. A empresa asseverou, porém, que “esta situação ficou resolvida no próprio dia (18 de Junho), tendo a Águas do Porto contactado a moradora queixosa, que assegurou que o mau cheiro tinha desaparecido”.

Texto editado por Ana Fernandes

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