Johnson escolhe polémico cérebro da campanha do “Brexit” para conselheiro

Dominic Cummings terá papel de destaque na equipa do novo primeiro-ministro. Figura chave da campanha pela saída da UE, foi denunciado por obstrução ao Parlamento, por ter recusado comparecer numa comissão que investigava notícias falsas na campanha do referendo.

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Apoiantes da campanha pela saída do Reino Unido da UE EPA/NEIL HALL

Boris Johnson quer mostrar a quem o elegeu que está determinado em retirar o Reino Unido da União Europeia e por isso vai reservar um lugar de destaque na sua equipa para Dominic Cummings, o fundador e o cérebro da campanha oficial pelo “Brexit” para o referendo de 2016, chamada “Vote Leave”.

Segundo a imprensa britânica, o antigo director estratégico de Ian Duncan Smith e chefe de gabinete de Michael Gove será conselheiro do novo primeiro-ministro – que venceu na terça-feira a eleição interna do Partido Conservador.

Cummings dirigiu a campanha “Vote Leave” e foi o autor e promotor de alguns dos seus lemas mais polémicos, entre os quais o perigo da “invasão” de turcos, motivada pela adesão iminente da Turquia à UE ou a possibilidade de injecção de 350 milhões de libras por semana no Serviço Nacional de Saúde, oriundas das contribuições britânicas para o orçamento comunitário.

Já depois da vitória do “sim” ao “Brexit”, o “Vote Leave” foi multado pela comissão eleitoral britânica, por ter ultrapassado os limites impostos por lei para despesas em campanha. E segundo uma reportagem do The Observer, foram encontradas ligações entre uma empresa canadiana contratada pelo “Vote Leave” e a Cambridge Analytica – a empresa britânica que utilizou uma aplicação para compilar milhões de dados de utilizadores de Facebook, sem o seu consentimento, para fins políticos.

Na sequência dessas acusações e suspeitas, foi criada uma comissão parlamentar na Câmara dos Comuns para investigar a disseminação e de notícias falsas e de desinformação nos meses que antecederam o referendo. Cummings foi convocado a prestar declarações, mas recusou. 

Foi, por isso, denunciado pelos deputados de estar in contempt, uma figura jurídica prevista nos regulamentos de Westminster da qual se decreta que houve uma obstrução aos trabalhos e ao normal funcionamento do Parlamento.

A deputada Sarah Wollaston – que abandonou o Partido Conservador em Março, por causa do rumo do Governo de Theresa May para o “Brexit” – recorreu esta quarta-feira ao Twitter para criticar a escolha de Cummings para conselheiro de Boris Johnson.

“A ser verdade, será um erro de apreciação terrível nomear alguém que foi denunciado por obstrução ao Parlamento. Será muito estranho que isto aconteça e vergonhoso que o primeiro-ministro premeie [Cummings], com um cargo tão elevado”, escreveu Wollaston naquela rede social.

Reconhecido por adversários e antigos colegas como um indivíduo combativo e implacável na defesa e promoção das causas em que se envolve, Dominic Cummings foi recentemente interpretado pelo actor Benedict Cumberbatch, no filme Brexit: The Uncivil War, do Channel 4, que relata os bastidores do “Vote Leave”, com a acção focada no trabalho do estratega da campanha.

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