Podemos envia mensagem de que não quer servir de decoração
Governo de Sánchez chumbado na primeira votação no Congresso. Partido de Pablo Iglesias absteve-se porque quer poder no novo executivo espanhol e não apenas lugares no conselho de ministros.
A Espanha não tem governo. Pedro Sánchez conseguiu apenas 124 votos favoráveis esta terça-feira no Congresso, ficando a 52 da maioria absoluta de 176 deputados que precisava para ser investido como primeiro-ministro à primeira. Até o Unidas Podemos (UP), com quem o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) está a negociar um executivo de coligação, se recusou a dizer sim, preferindo o talvez da abstenção, e a mensagem de que pretende continuar a negociar. A nova votação é na quinta-feira.
O partido de Pablo Iglesias não gosta daquilo que o PSOE lhe tem oferecido. Sánchez começou por querer liderar um governo minoritário com acordo parlamentar preferencial com o UP (o chamado “governo de cooperação” que nunca ninguém entendeu muito bem que moldes teria), mas esbarrou com a exigência de Iglesias de entrar no governo.
Durante semanas foi o que houve, um braço-de-ferro dos dois dirigentes, até Iglesias aceitar que Sánchez jamais o deixaria entrar para o governo e o Podemos abdicar de exigir um dos ministérios de Estado (Finanças, Interior, Defesa, Justiça). Mesmo assim, Iglesias reclamava, na segunda-feira, no debate de investidura: “Pedimos-lhes cargos nas Finanças, na Habitação, no Trabalho e Igualdade, na Transição Ecológica. Disseram-nos que não. O que é que nos oferece, diga à câmara”.
O UP considera que do PSOE chegam apenas propostas sem significado político e verdadeiro orçamento para mudar seja o que for. Uma vice-presidência na área social, mas sem poderes e ministérios secundários (alguns novos e sem grandes definições), longe do centro executivo e incapaz de realmente deixar marcas.
Sánchez esboçou um tom conciliatório, mesmo sem grande profundidade nas definições: “Temos que fazer um governo possível, falar de conteúdos e de programa. Os ministros que se sentarem nesta bancada não serão do PSOE, nem do Unidas Podemos, serão ministros do Governo de Espanha”.
A posição do primeiro-ministro em exercício não convence. A Esquerda Republicana da Catalunha (que votou contra esta terça-feira, mas já prometeu abster-se na quinta-feira para não travar a formação do executivo) chamou, através do seu líder parlamentar, Gabriel Rufián, “irresponsável e imprudente” a Sánchez. E até foi mais além: “Ou o senhor é irresponsável ou quer ir a eleições e não sei o que é pior”.
Apesar de ter apenas 123 deputados num universo de 350, o PSOE negoceia como se estivesse numa posição mais confortável, jogando com as sondagens (que lhe dão números próximos da maioria absoluta e colocam o UP em perda), sabendo de antemão que Iglesias quer tudo menos que não saia um executivo das eleições de 28 de Abril. O UP precisa urgentemente de ganhar dimensão de Estado e 70% dos seus militantes votaram favoravelmente a entrada no governo, desde que tenham ministérios.
Sánchez tentou uma última vez a sua fórmula de executivo minoritário, apelando ao Partido Popular e ao Cidadãos para se absterem e permitirem assim que possa formar governo mesmo sem o UP, algo que os dois partidos de direita voltaram a recusar.
Até quinta-feira, quando se realiza a segunda votação, passadas 48 horas como manda o regimento do Congresso, socialistas e UP parecem estar condenados a chegar a acordo. Na primeira votação, 170 deputados votaram contra. Mesmo com a alteração do sentido de voto da ERC, diminuindo os votos contra para 155, continua a ser uma barreira que a aritmética socialista não pode superar sem o UP.