Antiga serralharia de Belém oferece “abrigo criativo” a chefs e artistas
Equipa do The Presidential apoia projectos em fase de arranque e organiza eventos em torno da comida num espaço recuperado em Lisboa.
Rodas gigantes onde se serve comida, festas de pijama para ver os Óscares, comboios que serão hotéis, chefs em chamas, comida do neolítico e uma casa nova. Em meia hora, ao final da tarde de segunda-feira, no bairro de Belém, em Lisboa, Gonçalo Castel-Branco, o responsável por projectos como o The Presidential ou o Chefs on Fire, apresentou a torrente de ideias que, juntamente com a sua equipa, se propõe realizar nos próximos dois anos – e mais além.
Há projectos já consolidados, outros que são um “rumor” e os que por enquanto estão ainda na categoria do “sonho”. Mas comecemos pela casa nova, baptizada como House of Hope and Dreams. A equipa, que até há poucos meses trabalhava a partir da sala de jantar da casa de Gonçalo, instalou-se agora numa antiga serralharia abandonada há vários anos e recentemente recuperada.
O espaço é grande e o escritório ocupa apenas uma parte. Por isso, anunciou Gonçalo, há espaço para receber amigos, neste caso, pessoas ou grupos que estejam a lançar projectos que partilhem, de alguma forma, a mesma filosofia. Não se trata de um co-working, sublinha, mas sim de um “abrigo criativo para chefs, artistas e para doers [fazedores]”.
Podem candidatar-se “pessoas inspiradoras, com ideias arrojadas e frescas e que tenham uma ambição que seja mais do que fazer dinheiro”. Os que encaixarem neste perfil, poderão ficar, sem pagar nada, durante um período entre três semanas e três meses. No arranque, já há alguns residentes, projectos como o Kitchenete ou o I Was Told There Would Be Cake.
O espaço mantém o ar de armazém, mas foi decorado de modo a criar diferentes recantos, com sofás, uma zona de refeições, com mesas e cozinha de apoio, e ainda uma área com um ecrã e possibilidade de receber concertos ou pequenas festas.
Estes diversos espaços poderão, separadamente ou em conjunto, ser alugados para diferentes tipos de eventos. Será uma forma de viabilizar financeiramente o projecto, apesar de, volta a sublinhar Gonçalo, a ideia ser “ter o mínimo possível de eventos, apenas o suficiente para pagar as contas”.
A par disso, haverá uma agenda com actividades, entre as quais um workshop, em data a anunciar, com o arqueólogo Pedro Cura, “especializado em técnicas neolíticas de confeccionar comida”, e outro com a fotógrafa Maria Midões, mas também uma “festa de pijama” para quem quiser acompanhar a noite dos Óscares com companhia ou outra para assistir ao Super Bowl.
A House of Hope and Dreams propõe-se ainda ser palco do terceiro aniversário do restaurante portuense Euskalduna, de Vasco Coelho Santos, e, além disso, criar um clube de almoços, cujos membros terão acesso aos pratos criados pelo chef executivo do grupo, Rui Santos, pagando apenas o preço de custo da refeição (são 30 doses diárias). Para o dia da apresentação, Gonçalo desafiou quatro restaurantes vizinhos a servir um snack: o mexicano Izcalli Antojeria, o portuguesíssimo O Frade, o japonês Tsukiji e o americano The Garage Smokehouse & BBQ.
Gonçalo Castel-Branco aproveitou ainda ocasião para revelar a nova identidade da marca que vai abarcar todos os projectos do grupo – que passa a chamar-se LOHAD – e para fazer um ponto da situação do que está na calha. Em primeiro lugar, o The Presidential, que volta em Setembro para aquela que foi anunciada como a penúltima edição, com o comboio histórico a percorrer a linha do Douro, tendo como chefs convidados Leandro Carreira, Nuno Mendes e Bruno Rocha, Henrique Sá Pessoa, Óscar Gonçalves, Alexandre Silva, André Lança Cordeiro e Pedro Pena Bastos.
A 14 de Setembro, a segunda edição, em Cascais, dos Chefs on Fire, um festival de cozinha e música “para quem gosta de música mas não gosta de abdicar de todas as outras coisas em função da música” e, por isso, oferece conforto (só entram 1500 pessoas) e também chefs conhecidos a cozinhar com fogo “num fire pit com 90 metros de altura”.
Quanto à possibilidade de comer pratos cozinhados por chefs Michelin enquanto se anda numa roda gigante no meio de Lisboa – uma notícia a que Gonçalo, ironizando, chamou “rumor” – esclareceu que “este ano é completamente impossível”, mas irá realizar-se no próximo.
E, por fim, aquilo que ainda é apenas um sonho, mas no qual, disse, a equipa tem vindo a trabalhar há já um ano e meio: o The Vintage, “o maior comboio-hotel de Portugal, um Expresso do Oriente, com sete carruagens e suítes para vinte pessoas” naquele que será “um dos projectos de luxo mais arrojados que o país viu na última década” e que tem um orçamento de 15 milhões para cinco anos. Para já, a equipa está “a trabalhar com o Governo para que se torne uma realidade o mais rápido possível”. O objectivo é 2020, mas Gonçalo prefere ainda não se comprometer com uma data definitiva.