Saúde sem comunicação é saúde doente

Há um desinvestimento cada vez maior na prevenção e estratégias de comunicação e de educação para a saúde. As pessoas deixaram de contar. As pessoas não são números.

Não há prevenção. Não há redução de riscos. Não há estratégias de comunicação em saúde. Mas há propaganda. Ai propaganda, política, a quanto obrigas. Parafraseando O’Neill e o seu Poema pouco original do Medo: “...Penso no que o medo vai ter, e tenho medo, que é justamente o que o medo quer”. Não podemos compreender a Saúde e os seus agentes sem perceber um pouco de Filosofia e de Poesia. Esta, especialmente, abre em arte, as mentes retrógradas e barradas à entrada da evolução a ciência e do conhecimento científico. Continuando com o grande poeta português: “... O medo vai ter tudo, quase tudo... e cada um por seu caminho havemos de chegar quase todos a ratos...” Não há praga pior.

Por isso opto por ser uma guardadora de rebanhos, confio nas ovelhas. Acredito nos discípulos que criamos na academia. Acredito que mobilizando diferentes stakeholders para a promoção da saúde, conseguimos ultrapassar o lago cinzento criado pela pior gestão virada à esquerda de uma senhora cheia de si, tão cheia que salta de poça em poça, num virote de salta-pocinhas, como a última Unidade de Saúde Familiar do Bombarral. Há limites. Bem, mas ela foi tão, mas tão competente, pasme-se senhor contribuinte, que vai a cabeça de lista na terra dos grandes trovadores.

Guardaria os rebanhos se o pastor soubesse arrebanhar as suas ovelhas, mas tresmalharam. Recorro ao grande poeta, uma pessoa, que morreu jovem, alegadamente por consumos excessivos — já la vamos — “Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos/ E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos./ E com as mãos e os pés. /E com o nariz e a boca...”. Este consumidor consumiu-se nos seus pensamentos e deixou que os consumos excessivos acabassem com a sua vida, ainda jovem. Nos dias de hoje, dizem que vivemos o século XXI, “mas tu (não) contas, perdoe-me o João Miguel Tavares. Nós não contamos para nada.

Em Portugal, especialmente em Lisboa, Alentejo e Porto, consome-se mais álcool e outras substâncias e intensamente. Fenómeno binge drinking assola cada vez mais o futuro do país, os jovens. Que faz a saúde? Zero.

Fuma-se mais e mais. Há evidência — Kings College — que substituir cigarros com filtro por cigarros (não sou fã do nome) aquecidos, seria uma clara política de redução de risco, para doenças crónico-degenerativas ou outras, mortais. É melhor enterrar a cabeça na terra, se a Terra deixar. Tais os níveis de poluição. Bendito André Silva e políticas de beatas, que não são as de igreja da Crisóstomo.

A vaidade e as absurdas ideias e autopromoção e descomunicação são casos de estudo. E há um desinvestimento cada vez maior na prevenção e estratégias de comunicação e de educação para a saúde. As pessoas deixaram de contar. As pessoas não são números. Apenas contam (estamos em fase de propaganda...) em meses pré-eleitorais. Soltam-se os cordões à bolsa. Inauguram-se centros e unidades. Vestem-se novos vestidos. E sorri-se para as câmaras mesmo que os jornalistas façam perguntas desconfortáveis.

Se o poeta de Lisboa se entregou aos prazeres e efeitos nefastos de consumos excessivos, não posso deixar de puxar a Toada de Portalegre de José Régio. Com a sua Toada relembra “em Portalegre, cidade do Alto Alentejo, cercada de montes e de oliveiras / Do vento soão queimada (Lá vem o vento soão! / Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos / Dói nos peitos sufocados, e atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão...)... o suícidio!!! O drama silenciado do suicídio. Sabemos — dados de um estudo recente — que a incidência de suicídio — lá está — a saúde mental — sempre abandonada, estigmatizada. Quantos estudantes abandonados, universitários saídos dos seus meios, se plantam em residências e acabam sem vida? E o que fazemos senhora grande ministra? Silêncio. Zero estratégias. Os jovens não contam. A prevenção não conta. A redução de riscos não conta.

Investimos na ciência na sua vertente multidisciplinar e apostamos mais e mais em evidência para desenhar estratégias, implementadas em meios de comunicação, em breve num programa inovador de televisão, a academia a servir a comunidade, os portugueses e os residentes, contam. Para mim. Para nós.

Como perita nestas matérias, recomendo mais prudência porque o desinvestimento em promoção da saúde é sinónimo de perdas em Saúde. Sem prevenção não há ganhos. Esta sua política, senhora ministra, enfadonha de gestão de doença, e sem cuidado com estratégias de comunicação em saúde, vão potenciar um colapso no sistema de saúde. Por isso, como compreender uma saúde sem comunicação? Só há, depressão, riscos corridos e consentidos e não prevenidos. Afinal, existe a perfeita ausência de política de prevenção.

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