O que está por trás da rivalidade entre Mack Horton e Sun Yang?
O australiano recusou-se a partilhar o pódio com o chinês após a final dos 400m livres nos Mundiais de natação, naquele que foi mais o mais recente capítulo de uma hostilidade que vem de longe.
Mais do que que o recorde do mundo de Adam Peaty, ou a surpreendente derrota de Katie Ledecky, o que dominou as atenções no primeiro dia de natação pura nos Mundiais que estão a decorrer em Gwangju (Coreia do Sul) foi a recusa de Mack Horton em partilhar o pódio dos 400m livres com Sun Yang. Falta de desportivismo do australiano, que tinha acabado de voltar a perder para o seu rival chinês? Não foi apenas uma coisa do momento e não é assim tão simples. A hostilidade entre os dois já vem de longe e vai para lá da competição na piscina. Yang já esteve suspenso por doping, tem má fama entre os outros nadadores e Horton simplesmente não gosta dele.
Era a primeira final da sessão da tarde. Yang e Horton estavam separados por uma pista, o chinês na pista quatro, o australiano na dois. Yang já estava na frente a meio da prova e dominou na segunda metade, Horton só garantiu a medalha de prata nos últimos 50 metros.
Na cerimónia protocolar, todos receberam as respectivas medalhas, mas nem todos subiram ao pódio. Yang colocou-se no ponto mais alto para receber a medalha de ouro respeitante ao seu quarto título mundial consecutivo na distância, e, ao seu lado esquerdo, estava o italiano Gabrielle Deti, que repetiu o bronze de 2017. Do outro lado, e com os pés fora do pódio, estava Horton, que cumprimentou Deti e ignorou Yang. “Recuso-me a partilhar o pódio com alguém que faz o que ele faz”, foi a explicação imediata do australiano. O chinês não o deixou sem resposta: “Desrespeitar-me não faz mal, desrespeitar a China, é infeliz.”
Ainda não é claro se Horton irá sofrer alguma repercussão por parte da Federação Internacional de Natação (FINA), mas, em comunicado, o organismo diz que vai enviar uma carta ao australiano avisando-o que “não pode usar os eventos da FINA para gestos ou declarações pessoais”. É, no entanto, inequívoco o apoio que recebeu dos responsáveis pela natação australiana – ninguém na equipa sabia, no entanto, o que ele iria fazer - e, a acreditar nas palavras da nadadora norte-americana Lily King, também teve um forte apoio de uma parte substancial dos nadadores. “Foi fantástico. Quando ele chegou à sala de jantar, toda a gente se levantou e aplaudiu. Foi óptimo ver os atletas unidos a apoiá-lo”, revelou a brucista norte-americana.
Já não é a primeira vez que o nadador australiano se refere nestes termos ao seu rival chinês. Em 2016, no Rio de Janeiro, antes da final olímpica dos 400m livres, Horton falou de Yang como um “batoteiro” depois de ter revelado que o chinês o tinha deliberadamente salpicado com água durante um treino. “Ignorei-o. Não tenho tempo e não tenho respeito por batoteiros que usam drogas. Tenho um problema com atletas que estiveram suspensos por doping e que continuam a competir”, disse na altura o australiano, que viria a ficar com o ouro nos 400m livres, à frente de Yang, que esteve suspenso durante três meses em 2014 por um controlo positivo quanto à presença do estimulante Trimetazidina, que estava na lista das substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidopagem (AMA) – o atleta chinês alegou que era um medicamento para o coração.
Esses três meses acabaram por não ter grande significado na carreira desportiva do nadador chinês, que tem sido o grande dominador do estilo livre nos últimos anos, com três títulos olímpicos e dez mundiais, mais muitas outras posições de pódio entre os 200m e os 1500m livres. Mas Yang arrisca-se, em breve, a sofrer uma suspensão que o pode afastar das piscinas a longo prazo.
Segundo documentos da FINA que foram divulgados por um jornal australiano, Sun recusou submeter-se a um controlo fora de competição a uma equipa de técnicos da AMA, chegando inclusive a destruir amostras do seu próprio sangue, alegando que os técnicos não estavam devidamente identificados. O caso foi analisado pela FINA, que decidiu a favor do nadador, mas a AMA recorreu para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD).
O caso será analisado pelo TAD em Setembro, e uma decisão desfavorável tira-o dos Jogos Olímpicos de Tóquio no próximo ano. Mas isso será só daqui a um par de meses. Nos horizontes mais próximos de Yang está a sua campanha do ouro em Gwangju, estando ainda inscrito nas provas de 200m e 800m livres – não vai, no entanto, participar na prova em que é recordista mundial, os 1500m, com o tempo de 14m31,02s, feito em 2012.
Nos 200m, Yang vai tentar repetir o título conquistado em 2017, nos 800m irá tentar recuperar o trono depois de, há dois anos, ter tido uma rara corrida em que ficou de fora do pódio (foi quinto). E voltará a ter Mack Horton ao lado.