A procuradoria do condado de Clark, estado norte-americano do Nevada, não irá acusar criminalmente Cristiano Ronaldo no caso das suspeitas de violação num hotel de Las Vegas, em 2009. A decisão foi anunciada esta segunda-feira pelo gabinete do procurador Steven B. Wolfson.

“Com base numa reavaliação da informação apresentada a esta data, as alegações de agressão sexual contra Cristiano Ronaldo não podem ser provadas para além da dúvida razoável. Por esse motivo, não será apresentada uma acusação”, lê-se num comunicado.

O documento refere ainda que a alegada vítima recusou identificar o suposto agressor ou o local do crime em 2009, o que fez com que “os investigadores não pudessem procurar provas vitais”.

“Provas em vídeo, mostrando as interacções entre a vítima e o agressor antes e após o alegado crime, perderam-se. E a investigação criminal foi encerrada”, recorda a procuradoria, referindo a celebração de um acordo extrajudicial entre a queixosa e o futebolista português, que sempre negou a ocorrência de um crime.

“Durante um período de oito anos, a polícia não ouviu nada mais da vítima sobre o crime ou o agressor”, refere, dizendo que ainda assim, “apesar da passagem de nove anos”, o caso foi reaberto após a apresentação de um pedido nesse sentido a 28 de Agosto de 2018. No entanto, conclui, as alegações não podem ser comprovadas.

Caso foi denunciado em Agosto de 2018

Em Agosto de 2018, Kathryn Mayorga, uma mulher norte-americana de 34 anos, veio a público denunciar a alegada violação que teria sofrido em 2009, em Las Vegas, por parte do futebolista português. A história foi na altura contada na revista alemã Der Spiegel, e Cristiano Ronaldo desmentiu as acusações quase de imediato, alegando que a relação com Mayorga tinha sido consentida.

Mayorga afirmou na altura que Ronaldo lhe terá pago 375 mil dólares (aproximadamente 324 mil euros) para manter-se em silêncio sobre o alegado incidente, mas o advogado da norte-americana questionou, em 2018, a validade do acordo. Uma queixa foi então apresentada num tribunal no estado de Nevada, nos Estados Unidos.

A norte-americana afirmou à Der Spiegel que, num quarto de hotel, o jogador português a terá obrigado a praticar sexo anal. Mayorga diz que lhe pediu várias vezes para parar, no contexto de uma relação até ali consentida, e que lhe disse “não”. Ronaldo terá continuado, ainda segundo o relato de Mayorga. No final, conta a mulher, à data dos factos com 25 anos, o futebolista ter-lhe-á perguntado se tinha dores e ter-se-á posto de joelhos. Mayorga diz ainda que Ronaldo lhe disse que era “um bom rapaz 99% das vezes e que não sabia de onde vinha o 1%”.

Cristiano Ronaldo, que sempre negou publicamente a acusação, viu-se envolvido numa acção cível que pedia a anulação do acordo de confidencialidade e que o acusava de vários crimes: agressão e abuso sexual, imposição intencional de sofrimento emocional, coacção e fraude, chantagem e conspiração, difamação, abuso de direito. Na altura, Ronaldo disse ainda, num chat online, que as alegações eram “fake news” (notícias falsas, em inglês), e que havia pessoas a tentar aproveitar-se do seu nome. A acusação teve na altura consequências desastrosas para o actual clube do craque português, a Juventus, cujas acções caíram 15% nos dias que se seguiram ao escândalo.

Queixa transitou para tribunal federal

Em Junho deste ano, a Bloomberg noticiou que a queixa contra o futebolista da Juventus teria sido retirada da justiça, em pedido apresentado no mês de Maio no tribunal estadual do Nevada em Las Vegas. No entanto, pouco depois, uma das advogadas da queixosa garantia que Kathryn Mayorga ia manter a queixa contra Cristiano Ronaldo.​ “As acusações não foram retiradas. Apenas retirámos a nossa queixa ao nível do Estado [do Nevada], porque apresentámos uma idêntica perante um tribunal federal”, disse Larissa Drohobyczer, advogada de Kathryn Mayorga. Segundo a advogada, a queixa terá transitado para o Tribunal Distrital do Nevada, que diz respeito a um tribunal do âmbito federal, depois de não ter sido possível aos advogados de Mayorga intimar Ronaldo num tribunal estatal.

Também o jornalista Rafael Buschmann, repórter da revista alemã Der Spiegel e um dos autores do artigo que, em 2018, revelou publicamente a acusação de Mayorga, contrariou a informação avançada em Junho, afirmando que “o caso não está encerrado” mas sim “num tribunal diferente”. “Depois de não ter sido possível aos advogados de Mayorga intimar Ronaldo, apresentaram o caso a um tribunal federal”, disse o jornalista no Twitter, sugerindo que a retirada da queixa do tribunal de Las Vegas não significaria uma desistência do caso.

Poucos dias depois de a queixa de violação ter migrado para aquela instância judicial, o futebolista português foi notificado pela justiça norte-americana de que o processo iria avançar e de que teria de prestar declarações. Contudo, a decisão anunciada esta segunda-feira pela procuradoria do condado de Clark significará um presumível ponto final no caso.