Poeta e ensaísta cubano Roberto Fernández Retamar morre aos 89 anos
O escritor cubano foi durante 33 anos director da Casa das Américas.
O escritor e intelectual cubano Roberto Fernández Retamar, presidente da Casa das Américas, morreu este sábado em Havana, aos 89 anos.
Autor de uma vasta obra em prosa e verso, que lhe valeu o Prémio Nacional de Literatura de 1989 por Juana y otros poemas personales, os seus livros foram traduzidos em várias línguas e o seu ensaio Caliban, Notas sobre a Cultura da Nossa América (1971) é considerado um dos mais importantes da literatura latino-americana do século XX, diz a agência EFE, citada pelo jornal espanhol El País. No ensaio, que se tornou obra obrigatória em muitas universidades do continente, Retamar reivindica uma identidade própria para a cultura latino-americana numa perspectiva pós-colonial.
“Perdemos um dos maiores poetas e pensadores da Nossa América e do mundo: Roberto Fernández Retamar. Deixa-nos um trabalho excepcional, focado na descolonização e anti-imperialismo”, escreveu na rede social Twitter o ex-ministro da Cultura da ilha, Abel Prieto.
Entre os temas de seus versos, frequentemente vezes prosaicos, estão o humor, a amizade, o amor e o quotidiano.
Nascido em 1930, Fernández Retamar começou a trabalhar muito cedo como jornalista na revista Alba, para a qual entrevistou nomes como o escritor norte-americano Ernest Hemingway. Na década de 1950 colaborou com a revista Origens, altura em que se envolveu na luta clandestina contra o regime de Fulgencio Batista.
Após o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro em 1959, ocupou vários cargos em instituições culturais, incluindo a Casa das Américas, onde começou a dirigir a revista da instituição em 1965 para chegar à sua presidência em 1986. Até à sua morte, manteve-se no cargo, que exerceu durante 33 anos. Professor Emérito da Universidade de Havana, foi também membro da Academia Cubana da Língua, que dirigiu entre 2008 e 2012.
O escritor era membro do Conselho Cubano de Estado, órgão máximo do Governo no país, tendo sido deputado na Assembleia Nacional entre 1998 e 2013. Retamar não deixa de ser uma figura polémica pelo seu apoio ao regime de Fidel Castro, escreve o site CiberCuba, lembrando os vários cargos que ocupou no mundo cultural e político cubano. Esteve entre os 27 intelectuais e artistas cubanos que em 2003 assinaram uma carta de apoio a Fidel Castro quando o ditador mandou fuzilar três homens que desviaram um barco para fugir da ilha (José Saramago afastou-se do regime nessa altura).
Antes de ter recebido o Prémio Nacional de Literatura, o mais importante do género em Cuba, já tinha ganho em 1951, pelo livro Pátrias, o Prémio Nacional de Poesia, tendo sido também distinguido com o Prémio Nacional de Ciências Sociais em 2012. França, onde exerceu um cargo de conselheiro cultural, deu-lhe a medalha oficial das Artes e das Letras em 1998 e a UNESCO o Prémio Internacional José Martí em Janeiro deste ano.