Ex-Presidente do Peru detido nos EUA por suspeitas de corrupção
Autoridades judiciais norte-americanas decidirão se Alejandro Toledo será extraditado para o Peru, onde é acusado de ter recebido mais de 18 milhões de euros em subornos da construtora brasileira Odebrecht.
Alejandro Toledo, antigo chefe de Estado peruano, foi detido esta terça-feira nos Estados Unidos e ficará sob custódia das autoridades norte-americanas pelo menos até sexta-feira, dia em que será sujeito a interrogatório. Através da rede social Twitter, o Ministério Público peruano informa que a detenção nos EUA resulta de um pedido de extradição apresentado pelo país sul-americano, em Maio de 2018, a Washington, que decidirá agora o destino de Toledo.
Em declarações à rádio peruana RPP, Heriberto Benítez, advogado de Alejandro Toledo, alega que o seu cliente não teve o devido acesso ao processo durante a fase de investigações e afirma que a extradição para o Peru não está já garantida. Citado pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo, César Nakazaki, um advogado criminal, alerta que o processo de extradição “poderá demorar de seis a oito meses” e que será “uma dura batalha legal para o Peru”.
O homem que presidiu o Peru entre 2001 e 2006 é acusado de ter recebido 20 milhões de dólares [18,8 milhões de euros, aproximadamente] em subornos da construtora brasileira Odebrecht. A ordem de detenção pelo Peru tinha sido dada já em Fevereiro de 2017 e foi agora executada pelos marshals norte-americanos.
Neste caso, no centro do alegado esquema de corrupção está a construção de uma auto-estrada que ligaria o Peru e o Brasil. Mas a Odebrecht é, desde 2016, acusada de recorrer a subornos para garantir mais de uma centena de projectos em 12 países africanos e da América Latina, chegando mesmo a admitir ter pagado no Peru, entre 2005 e 2014, 29 milhões de euros para assegurar empreitadas. Os 12 contratos adjudicados à Odebrecht no Peru no período sob investigação estão avaliados em 788 milhões de dólares [aproximadamente 694 milhões de euros].
A par de Toledo, também Alan García, que foi Presidente do Peru por duas vezes, entre 1985 e 1990 e de 2006 a 2011, era outro dos acusados de ter recebido pagamentos ilícitos da construtora brasileira. Mas momentos antes de ser detido no âmbito da investigação, em Abril, disparou contra si próprio. Foi transportado para o hospital, mas acabaria por não resistir aos ferimentos na cabeça e morreria dois dias depois.
A suposta teia de corrupção da Odebrecht estendeu-se por vários países: no Brasil, Lula da Silva, Presidente entre 2003 e 2011, é suspeito de ter recebido oito milhões de reais [2,23 milhões de euros] em subornos da construtora, sendo referido como “amigo” na lista de beneficiários da empresa. Mas o Peru será mesmo o país mais atingido pelo escândalo internacional: aos dois antigos Presidentes já referidos juntam-se Ollanta Humala, que esteve detido durante nove meses e agora se encontra em liberdade condicional, e Pedro Pablo Kuczynski, que apresentou a demissão do cargo de Presidente do Peru em Março de 2018, também devido a suspeitas de favorecer a construtora brasileira. Após a demissão de Kuczynski, tomou posse o até ali vice-presidente Martín Vizcarra, que ainda se mantém actualmente na presidência peruana.
Nos Estados Unidos, a Odebrecht e a petroquímica Braskem pagaram pelo menos 3500 milhões de dólares (3360 milhões de euros) para encerrar processos sobre o suborno de líderes estrangeiros. O Governo do Panamá, por seu turno, proibiu a construtora de obter novos contratos de obras públicas.
Abalada pelos sucessivos escândalos, a empresa entrou em Junho com um pedido de recuperação judicial na Comarca da Capital do Estado de São Paulo. A dívida do grupo ascende actualmente aos 83 mil milhões de reais (19 mil milhões de euros ao câmbio actual) e o objectivo é conseguir uma reestruturação que envolve um perímetro de dívida de 51 mil milhões de reais (11,6 mil milhões de euros).