Nova inspectora avisa polícias que devem usar a força com “proporcionalidade”

Em 2018, Inspecção-Geral da Administração Interna recebeu 860 denúncias contra a actuação das forças de segurança, o valor mais alto dos últimos sete anos. O ano passado foram abertos 62 processos disciplinares a polícias, mais 24 do que em 2017.

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Foi o ministro Eduardo Cabrita que escolheu nova inspectora-geral da Administração Interna. Miguel Manso

 A nova inspectora-geral da Administração Interna (IGAI) considerou esta segunda-feira que as polícias devem usar a força “numa perspectiva de proporcionalidade e adequação”, defendendo que “nenhuma actividade do Estado está fora do escrutínio público”.

“Nenhuma actividade do Estado está fora do escrutínio público. É fundamental que cada um dos polícias e militares tenha interiorizado que a autoridade fundamental no exercício das suas funções não emana das pessoas, mas do cargo em que estão investidas”, disse a juíza desembargadora Anabela Cabral Ferreira, na sua tomada de posse.

Numa cerimónia que decorreu no Ministério da Administração Interna, a juíza desembargadora destacou o “equilíbrio entre a ideia do uso da força como recurso último e a necessidade de a usar sempre numa perspectiva de proporcionalidade e adequação”.

“Não há que recear a temática do uso da força sempre que observado o respeito por estes princípios”, frisou, destacando o facto de Portugal ser um dos países mais seguros do mundo e onde mais cresceu a percepção da aceitação de migrantes.

Nesse sentido, afirmou que as forças de segurança têm sabido estar “à altura dos desafios representados por uma maior pressão migratória, um aumento exponencial do turismo e uma enorme diversidade cultural que esses fenómenos acarretam”. Para a nova IGAI, as forças da autoridade estão veiculadas a pautar a sua conduta por “critérios de estrita legalidade, quer na investigação, quer na intervenção”.

“Naturalmente que, em instituições com milhares de homens e mulheres, haverá casos em que o polícia ou o militar falha na sua intervenção. Não desconheço, nem escamoteio o que é óbvio para a comunidade”, precisou, ressalvando que a generalidade das forças de segurança tem sabido estar à altura das expectativas dos cidadãos. No entanto, há casos “em que assim não acontece, mas esses são casos patológicos que não representam a generalidade da instituição”.

Anabela Cabral Ferreira frisou que, caso existam falhas na intervenção das polícias, a Inspecção-Geral da Administração Interna exigirá “o apuramento de responsabilidades e da verdade material” para manter “o bom nome e o normal funcionamento” das instituições.

“Não simpatizo com a expressão polícia dos polícias, tantas vezes ligadas à inspecção-geral, que parece colocar ênfase na função punitiva que lhe está cometida. O que pretendo, exijo, mas que também observarei é o respeito pela legalidade, rigor, responsabilidade e dignidade. Todos esses princípios têm de pautar a actuação das forças de autoridade, mas também se impõem à comunidade na forma como se relacionam com aqueles que nos protegem”, realçou.

Anabela Cabral Ferreira, que exercia até agora funções na secção criminal como juíza desembargadora no Tribunal da Relação de Lisboa, foi designada pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e vai substituir Margarida Blasco, que deixou a IGAI em Maio deste ano.

No discurso, Eduardo Cabrita sublinhou que a IGAI é a instituição no Ministério da Administração Interna que é “o particular garante do equilíbrio fundamental entre a operacionalidade das forças de segurança e o estrito respeito pelos princípios do Estado de direito democrático”.

O ministro falou num “novo tempo” para a IGAI, considerando que a juíza desembargadora tem “as condições adequadas e o perfil certo para o exercício” das funções nos próximos anos. O governante referiu ainda que este cargo “é particularmente sensível num ministério complexo e sob permanente e justíssimo escrutínio público”.

As queixas contra membros da PSP e da GNR são a grande fatia do trabalho da IGAI, que em 2018 recebeu 860 denúncias contra a actuação das forças de segurança, o valor mais alto dos últimos sete anos.

A PSP foi a força de segurança com maior número de queixas, tendo dado entrada na IGAI 477 participações contra a actuação dos agentes da Polícia de Segurança Pública em 2018, seguindo-se a Guarda Nacional Republicana, com 270, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, com 36, e outras entidades tutelados pelo Ministério da Administração Interna (25).

Segundo a IGAI, mais de um terço das queixas da actuação das forças de segurança estiveram relacionadas com ofensas à integridade física, tendo dado entrada um total de 255 no ano passado, 172 das quais dirigidas a elementos da PSP e 73 a militares da GNR. Também em 2018, os processos de natureza disciplinar abertos pela IGAI aos polícias aumentou 63% face 2017, registando este procedimento o valor mais elevado dos últimos sete anos. Este organismo que fiscaliza a actuação das forças de segurança instaurou 62 processos de natureza disciplinar aos polícias em 2018, mais 24 do que em 2017, quando foram abertos 38.