Chefe do governo de Hong Kong acusa manifestantes de serem “amotinados”
Há seis polícias hospitalizados assim como 28 manifestantes, alguns em estado grave, num protesto em que a violência de ambas as partes escalou.
A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse que os manifestantes que se manifestaram no domingo e se envolveram em confrontos com a polícia, devem ser tratados como “amotinados”.
Hong Kong tem assistido a uma série de grandes manifestações devido a uma proposta de lei para permitir extradições para a China Continental, o que muitos na região de administração especial temem que transforme a sua independência judicial, deixando-os expostos a um sistema com menos garantias como é o chinês, e que ponha mesmo em causa a posição da cidade como centro financeiro.
Carrie Lam declarou que a proposta estava “morta” após enormes protestos – os maiores em várias décadas – mas os críticos da medida querem a sua retirada formal.
Esta segunda-feira, a chefe do executivo visitou três polícias feridos nos confrontos, que aconteceram numa zona centro comercial num subúrbio próximo da fronteira com a China Continental, com a polícia a usar bastonadas e gás pimenta e os manifestantes a atirarem guarda-chuvas e garrafas de plástico contra os agentes.
Segundo o jornalista da BBC Stephen McDonnell, 28 manifestantes foram hospitalizados, e há dois feridos em estado crítico e quatro em estado grave. “Há uma escalada”, declarou.
Lam disse que ficaram feridos mais de dez polícias, seis deles hospitalizados, segundo a agência Reuters. O chefe da polícia, Stephen Lo, disse que foram detidas mais de 40 pessoas por ataques à polícia e ajuntamento ilegal.
O repórter da emissora britânica BBC contou no Twitter que, se por um lado, a polícia perseguiu manifestantes que a dada altura tentaram deixar o protesto, impedindo-os de entrar no metro, e atacando-os, por outro também houve manifestantes a atirar tijolos contra os polícias ou a apontar ponteiros de laser aos olhos dos agentes.
Um sindicato da polícias veio, entretanto, exigir mais garantias de protecção para a “segurança e saúde mental” dos agentes quando se espera que os protestos continuem, adiantava a agência de notícias britânica.
A maior crise política desde 1997
No domingo, mesmo dia das manifestações, o diário Financial Times noticiava que Lam ofereceu várias vezes a sua demissão, mas Pequim recusou. O Governo chinês nega interferir na política de Hong Kong. Esta é a maior crise política desde a transferência de poder para a China em 1997 sob o mote “um país, dois sistemas”, maior que a “revolta dos guarda-chuvas” o movimento pró-democracia de 2014.
O motivo dos manifestantes continua a ser a lei da extradição, mas alargou-se a um descontentamento em geral com o estado da democracia no território e outras questões mais concretas, como o comércio de fronteira com a China Continental (um negócio em que comerciantes chineses compram quantidades enormes de bens livres de impostos na fronteira em Hong Kong para os venderem na China Continental, deixando atrás de si pilhas de lixo e matando o comércio tradicional).
Ouvidos no jornal The Observer, alguns manifestantes queixavam-se desde projectos de infra-estrutura demasiado caros para aumentar a integração com a China a outros que planeiam punir quem “desrespeite” a bandeira chinesa ou o hino nacional.
“Fomos buscar a mesma energia” das manifestações contra a extradição, disse Alan Leung, um manifestante. A mensagem para os governos de Hong Kong e da China é clara, declarou: “Não se metam connosco”.