Na última década, Portugal virou a página no sector cervejeiro, com o aparecimento de várias marcas e festivais de cerveja artesanal. O crescimento de popularidade do produto despertou o interesse da jornalista Catarina Neves, que decidiu então realizar o “primeiro documentário sobre cerveja artesanal” em Portugal. Primeira rodada: Cerveja Artesanal à portuguesa mostra os bastidores de quase duas dezenas de marcas artesanais portuguesas da “bebida alcoólica mais popular do mundo”. A estreia está marcada para este fim-de-semana, no Teatro Municipal de Valadares, em Caminha: a primeira sessão acontece este sábado, 13 de Julho, às 17h30; volta a ser exibido no domingo, pelas 14 horas. A entrada é gratuita.
Ao telefone com o P3, Catarina Neves conta ter começado a prestar atenção ao sector pelo impulso que verificou no Beato, freguesia de Lisboa onde vive há cerca de 20 anos. Uma zona “bastante esquecida e degradada” da cidade ganhou uma nova vida com a entrada de três empresas de cerveja artesanal. Três fábricas e dois bares para saborear a bebida estimularam a vida da freguesia, que até já conta com um projecto para um Hub Criativo a arrancar até ao final do ano.
A curiosidade da jornalista culminou na realização do documentário sobre o sector em Portugal, que se estreia mundialmente este fim-de-semana no Artbeerfest, em Caminha. O documentário mostra “o estado da arte” de 18 das mais de uma centena de marcas portuguesas de cerveja artesanal, de Norte a Sul do país, que Catarina Neves visitou ao longo do último ano. A jornalista explica que tentou “escolher momentos do processo com algo que distinguisse as marcas”, dando a conhecer também “quem é a gente” que está a dinamizar este “mini boom” da cerveja artesanal. No caso da Letra, foi acompanhado o Letra Harvest Fest, um festival em torno da colheita do lúpulo, um dos ingredientes essenciais das cervejas
Apesar de ter uma história curta, Catarina entende que o sector está “pujante” e “com força” para continuar a ter investimento durante os próximos anos. A cerveja artesanal tem, por norma, um sabor intenso, mas quem experimenta as várias alternativas de sabores “acaba por gostar”. Há variedades para todas as preferências: à frente da indústria estão novos cervejeiros “muito criativos”, sempre a experimentar fórmulas e aromas de uma forma muito “científica”. A portuense Colossus, por exemplo, conta com banana nos ingredientes, enquanto a Oitava Colina, de Lisboa, utiliza framboesas numa das suas variedades e avelãs numa outra, em parceria com a Lince, uma das três marcas que se instalou no Beato. Mais ou menos amargas, ale ou lager, “há sempre alguma que agrada”.
Quem se habitua à cerveja artesanal começa a sentir que as chamadas “cervejas industriais”, apesar de saberem bem, parecem saber todas “quase ao mesmo”. A chegada ao mercado de tantos produtores, pode ler-se na sinopse do documentário, fez com que a “bebida milenar” se tenha libertado “da ditadura de um duopólio que, durante décadas, limitou a variedade de oferta e, consequentemente, as experiências sensoriais dos consumidores” em Portugal.