Marcos Valle num concerto único com a Orquestra de Jazz de Espinho
O Festival Internacional de Música de Espinho recebe este sábado um dos nomes cimeiros da música do Brasil, num concerto único.
Marcos Valle é um dos mais internacionais cantores e compositores brasileiros, ligado à segunda geração da bossa nova, e, nos seus mais de 50 anos de carreira, já correu meio mundo. Este sábado, a sua digressão europeia passa pelo 45.º Festival Internacional de Música de Espinho, onde actuará, acompanhado pela sua banda, com a Orquestra de Jazz local. O concerto decorrerá na Praça da Piscina Solário Atlântico, com entrada livre, às 22h.
Nascido Marcos Kostenbader Valle, no Rio de Janeiro, a 14 de Setembro de 1943, a sua carreira artística começou em 1961, num trio com Edu Lobo e Dori Caymmi. Antes, estudara piano clássico (aos seis anos), acordeão e violão. As suas parcerias com o irmão, Paulo Sérgio Valle, tornaram-se célebres. A primeira foi gravada pelo Tamba Trio, em 1963, e chamava-se Sonho de Maria. Mas depois vieram outras canções que o tornaram conhecido: Preciso aprender a ser só (celebrizada por Elis Regina), Samba de Verão (que viria a ter inúmeras versões, sobretudo em inglês, como Summer samba ou So nice), Viola enluarada, Os grilos ou Mustang côr de sangue (título de um álbum que recentemente surgiu, reeditado em CD, nas lojas portuguesas). Entre 1975 e 1980 morou nos Estados Unidos, onde trabalhou com o baterista e percussionista Airto Moreira e foi gravado por artistas como Sarah Vaughan ou os Chicago. Em 2014, comemorou os seus 50 anos de carreira com um álbum gravado ao vivo com Stacey Kent e Jim Tomlinson.
E agora lançou outro: Sempre, onde é autor de todas as músicas excepto uma, Aviso aos navegantes, de Lulu Santos. “É um disco bem p’ra cima, com muito ritmo, que mostra o meu lado pop”, diz Marcos Valle ao PÚBLICO, de passagem por Lisboa (onde actuou por uma noite nos Estúdios Time Out). “Porque noutros discos eu tinha mais o lado do jazz e da bossa nova.” O disco foi já lançado nos EUA, na Europa e no Brasil, onde Marcos mora, apesar dos seus constantes espectáculos no estrangeiro. “Moro no Rio de Janeiro, no Recreio dos Bandeirantes. Não é no centro da cidade, é um pouco mais afastado, fica perto da praia. É um lugar onde gosto muito de morar.”
Versátil e variado
O concerto em Espinho partiu de um convite, logo aceite. “Quando vi qual era a característica, me interessei muito, porque a orquestra são garotos, novos, e isso me lembrou de quando eu comecei, com 19 anos. Achei muito interessante, uma boa energia.” Os arranjos para orquestra são do trompetista e arranjador Jessé Sadoc, que trabalha com Marcos desde 2005 e o acompanha agora, junto com John Copland (baixo), Renato Massa (bateria) e Patricia Alvi (voz). Além deles e de Marcos Vale (voz e piano), participam ainda, na direcção musical, Daniel Dias e Paulo Perfeito.
“Fiz uma inserção dos sopros em cima do que o Marcos e a banda estão acostumados a tocar. Tentei fazer uma coisa que tivesse vulto e fosse funcional, ao mesmo tempo”, diz Jessé ao PÚBLICO. Marcos sublinha que estes são projectos especiais. “Normalmente, eu me apresento com a minha banda, que às vezes é maior ou menor conforme o local. Mas em Moscovo apresentei-me várias vezes com a orquestra sinfónica de lá, com arranjo do Jessé, e no Brasil fiz também uma vez com orquestra sinfónica, também com arranjo dele. Agora é em Espinho.”
Quanto ao repertório escolhido, Marcos adianta que que será variado. “Como o meu estilo é muito versátil, peguei em músicas de diversas épocas, desde bossa nova até música mais electrizantes, ou baladas. Procurei um repertório que dê uma noção da minha variedade de composição e que pudesse se adaptar bem para uma orquestra.”
Quando Marcos Valle é referido na imprensa, ligam-no quase sempre a Samba de Verão, embora ele tenha feito e gravado muitas outras músicas. Mas isso não o aborrece. “Na verdade, sou muito grato a essa música, que fiz bem no início da minha carreira, porque ela abriu o mercado e até hoje é gravada e regravada. Mas às vezes, noutros sítios e noutros tipos de público, não é essa que lembram. Há um público mais jovem, dos DJ e essas coisas, onde uma canção como Estrelar é mais lembrada do que o Samba de Verão. Outros referem mais Os grilos. Enfim, não me importo. Porque há pessoas que me conheceram em diversas gerações. No início tem o Samba de Verão, depois Viola enluarada, depois o Mustang côr de sangue. E essas gerações, conhecendo uma música, passam a procurar as outras que eu fiz.”