Fortaleza assediada
Ódio de classe, ódio de raça. É num mundo assim que vive Bonifácio.
Igualdade. Se a luta pelo reconhecimento de iguais direitos, igual dignidade, plena cidadania para todos, moveu gerações e gerações no percurso da história, em todas as sociedades, foi nos últimos 250 anos que ela passou a ocupar o centro do confronto político, social, económico, cultural. Não há explicação do mundo que não inclua uma teoria sobre a (des)igualdade, que não tome posição sobre ela, justificando-a na “ordem natural das coisas” com mais ou menos religião à mistura, ou denunciando os mecanismos reprodutores da desigualdade e a forma como ela determina modelos de sociedade. É perfeitamente expectável que, todas as vezes que a igualdade avança no campo dos direitos, se reiterem os discursos legitimadores da desigualdade, normalmente empapados de horror elitista pelas arraias miúdas (os pobres, os etnicamente outros, as mulheres e as identidades de género discriminadas). Ainda que muitas vezes os perdedores da desigualdade possam partilhar esse horror pela igualdade, quem teoriza a desigualdade natural é, por norma, quem beneficia dela.
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