Ministra da Saúde rejeita ideia de “tempo perdido” desde 2015

Marta Temido não não põe de parte hipótese de continuar à frente do Ministério da Saúde, caso o PS vença as eleições.

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Nuno Ferreira Santos

A ministra da Saúde rejeitou esta quinta-feira a visão de tempo perdido nesta legislatura, desde Novembro de 2015, como se sugere na última edição do Relatório da Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), explicando que houve necessidade de recuperar investimento no SNS.

“Não penso que os resultados desta legislatura, que ainda não acabou, sejam qualquer sinal de tempo perdido. Houve necessidade de recuperar o investimento no SNS e depois um conjunto de alterações, como nos cuidados saúde primários, (...) que demoram a tornar-se visíveis para o público. Mas há coisas a acontecer e os futuros relatórios da Primavera mostrarão que houve um caminho iniciado que tratará ganhos a longo prazo”, afirmou Marta Temido à Lusa no final da sessão onde foi apresentado o documento.

Admitindo que há ainda desigualdades que persistem no SNS, Marta Temido recordou que tem sido feito um trabalho de melhoria da distribuição dos recursos humanos nos cuidados de saúde primários, e que o número de portugueses sem médico de família diminuiu. Com um novo concurso em fase final, o Governo espera dar médico de família a mais alguns milhares de portugueses, chegando ao final da legislatura com cerca de 300 mil pessoas sem médico atribuído.

Questionada ainda sobre se estaria disponível para continuar como ministra num próximo Governo, caso o PS vença as eleições, Marta Temido preferiu dizer que primeiro é preciso deixar nas mãos dos portugueses a escolha eleitoral, mas sem rejeitar que continue à frente do Ministério.

Relativamente à opção pela dedicação exclusiva dos profissionais de saúde ao serviço público, a ministra confirmou que este trabalho “começou agora”, como já tinha afirmado em entrevista ao PÚBLICO, e lembrou que a opção pela dedicação plena ao SNS já constava do programa do actual Governo. “Estamos a estudar de que forma uma opção pela dedicação plena se poderia materializar, em termos de impacto financeiro, de quem abranger”, especificou.

O trabalho arrancou agora e deverá estar concluído a tempo de o entregar ao próximo ministro da Saúde, para que se tomem decisões na próxima legislatura.

Marta Temido tem manifestado várias vezes apoio a uma dedicação exclusiva, de modo opcional, dos profissionais de saúde, adiantando que pode não ser uma opção apenas para a classe médica.

A análise que está a ser feita, segundo a ministra, contempla ainda a parte remuneratória dos profissionais de saúde, de forma a ser mais eficiente e estimuladora para os recursos humanos.

Ex-ministro diz que SNS está “vivo e forte"

O ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes também reagiu ao balanço feito no Relatório da Primavera 2019 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, defendendo que o SNS está “vivo e forte”, apesar de “tanto ruído e tanto ataque político”.

“Creio que os portugueses já não suportam este ataque diário, permanente e insistente, que apenas serve para dar a ideia de que o SNS está acabado e que as pessoas têm de procurar outra alternativa”, afirmou Campos Fernandes, que saiu da pasta da Saúde em Outubro do ano passado.

O ex-governante entende que o documento sinaliza que o sistema de saúde resiste e “serve bem os portugueses”. “Naturalmente que temos problemas e dificuldades”, indicou o ex-ministro, dando os exemplos do investimento e dos recursos humanos.

Campos Fernandes destacou a área da Saúde Mental, que o relatório sublinha que há 20 anos que não tem a devida atenção, indicando que é “uma responsabilidade de todos”.

O socialista deixou ainda um recado aos responsáveis políticos, aconselhando a que se oiçam os peritos com humildade: “Quem não for capaz de ser humilde na politica deve mudar de vida”.

No balanço feito no Relatório da Primavera 2019, o professor de saúde pública na Universidade Lusófona Cipriano Justo, uma das três personalidade de quadrantes diferentes convidadas para fazer uma análise da acção governativa, diz que o sector da saúde foi marcado nos últimos anos por uma inércia de governação, muito baseada em gestão corrente, perdendo-se meses em “retórica e tacticismo” e deixando reformas por concretizar.