Um protesto silencioso contra as “mortes evitáveis” de ciclistas em Nova Iorque
Em apenas uma semana, três ciclistas morreram nas estradas de Nova Iorque e centenas de pessoas fizeram um protesto silencioso por mais segurança na cidade. Bill de Blasio admitiu ter “uma emergência em mãos”.
Em Nova Iorque, foram centenas aqueles que protestaram contra a morte de três ciclistas, no espaço de apenas uma semana, devido à falta de segurança nas ruas. Numa espécie de memorial, as pessoas reuniram-se em Washington Square Park, em Manhattan, esta terça-feira, 9 de Julho, e levaram a cabo um protesto em que fingem estar mortas (um "die-in” protest).
Os participantes deitaram-se no chão, colocaram as bicicletas a seu lado e assim ficaram durante cinco minutos, em silêncio. Alguns seguraram cartazes de indignação pelo facto de a Câmara da cidade não cumprir as promessas de tornar as ruas mais seguras para os ciclistas: “Mortes evitáveis”, lê-se num deles.
As três mortes mais recentes provocaram angústia nos defensores da bicicleta enquanto meio de transporte diário, assim como no presidente da Câmara de Nova Iorque. Bill de Blasio admitiu ao The New York Times ter “uma emergência em mãos”. Em declarações à WNBC 4 New York, o autarca reforçou esta ideia ao declarar que “nenhuma perda de vida nas [suas] ruas é aceitável”, pelo que há que “continuar a aumentar os esforços”.
Segundo declarações citadas pelo Guardian, Joseph Cutrufo, director de comunicações da Transportation Alternatives — organização norte-americana sem fins lucrativos que organizou o protesto e que defende os pedestres e ciclistas da cidade —, revelou que “as pessoas estão literalmente a morrer nas ruas porque não estão a ser adequadamente protegidas”. Muitos ciclistas e adeptos deste tipo de transporte dizem, inclusive, que a cidade não construiu ciclovias suficientes, nomeadamente pistas protegidas, para acompanhar o crescente número de ciclistas que nela circulam. Clayton Harper, de 43 anos, ciclista há 20, disse ao The New York Times que “até [existir] a infra-estrutura adequada, [continuará] a haver mortes”.
Jaime Taylor, de 35 anos, contou àquele jornal britânico que “andar de bicicleta em Nova Iorque é horrível”. “É um centro urbano denso e há centenas de milhares de carros a circular”, explicou. Taylor participou no protesto em homenagem a uma amiga, Robyn Hightman, atropelada mortalmente por um camião a 24 de Junho de 2019. Christina Gavin, de 36 anos, também colega da ciclista, disse ser “mais assustador ver isto acontecer com pessoas experientes”, como era o caso de Robyn Hightman.
Os manifestantes apontam para uma falta de fiscalização nos semáforos e nas ciclovias, nomeadamente nas zonas onde costuma ocorrer um maior número de infracções em Nova Iorque, cidade com mais de oito milhões de habitantes. Esta situação preocupa os ciclistas nova-iorquinos, que criaram uma página no Instagram dedicada a estes assuntos.
Nova Iorque já registou, só em 2019, a morte de 15 ciclistas: os manifestantes vêem esta situação como um aumento alarmante, tendo em conta que, em 2018, morreram dez ciclistas.
Enquanto outras cidades dos Estados Unidos podem ser menos propícias para a circulação de ciclistas do que Nova Iorque, esta última ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar a realidade de outras áreas metropolitanas. Nova Iorque tem o maior número de ciclistas dos EUA: em 2016 foram mais de 48 mil as pessoas que usaram uma bicicleta para se deslocarem para o trabalho diariamente, segundo o relatório da League of American Bicyclists 2018.