Egipto vai processar Christie’s por leilão de busto “roubado’’ de Tutankhamon

A escultura foi vendida em leilão por mais de 4,7 milhões de libras (cerca de 5,2 milhões de euros). O busto retrata o rosto do jovem faraó Tutankhamon que morreu com 19 anos a assumir a forma do deus egípcio Ámon.

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CHRISTIE'S

O Egipto vai tomar medidas para recuperar um busto do faraó egípcio Tutankhamon vendido pela casa de leilões Christie's por cinco milhões de euros na semana passada, peça que o país diz ter sido roubado e vendido de forma ilegal. Por um lado, o país já pediu a ajuda da Interpol para recuperar a peça de arte ao comprador anónimo que a adquiriu, e por outro vai processar a casa de leilões por a ter vendido mesmo depois de diversos protestos e explicações do Egipto para que a venda não fosse para a frente.

À BBC, o ministro das Antiguidades egípcio, Khaled al-Enany, refere que vai contratar um advogado para abrir um processo contra a Christie's com o objectivo de repatriar o objecto. Antes do leilão de sexta-feira — que contemplava outros 32 artefactos egípcios — a leiloeira afirmou que todas as verificações de rotina sobre a origem da peça foram realizadas e que a sua venda era legal e válida, explicando que o busto foi adquirido a um revendedor de arte em 1985. Antes disso, um comerciante austríaco tê-lo-á comprado em 1973-74 a uma cidadã alemã que o tinha na sua colecção desde a década de 60.

Segundo a Christie's, a peça já estaria exposta há vários anos. “Reconhecemos que alguns objectos históricos podem levantar discussões complexas sobre o seu passado, mas hoje, o nosso papel é trabalhar para poder continuar a fornecer um mercado transparente e legítimo, com altos padrões de transferência para com todos os objectos”, refere a leiloeira em comunicado citado pela Reuters.

No entanto, a embaixada egípcia em Londres afirma que a venda não seguiu as regras dos tratados e convenções internacionais que são aplicados nestes casos. Citado pela agência de notícia AFP, também Zahi Hawass, famoso arqueólogo egípcio e director do Conselho Supremo de Antiguidades do Egipto, afirmou que o busto parece ter sido roubado do Templo de Karnak na década de 70. “Os donos anteriores deram informações falsas e nunca mostraram nenhum documento legal que provasse que eram de facto donos da peça”, referiu.

Ao mesmo tempo que desencadeia o processo contra a casa de leilões, o país pediu à Interpol que procurasse o rasto do busto e dos restantes objectos que foram leiloados.

O Comité Nacional do Egipto para Repatriação de Antiguidades (NCAR), responsável por casos como este, criticou as autoridades britânicas pela sua falta de apoio em todo o processo e expressou o seu “profundo descontentamento” pela “maneira pouco profissional como os artefactos egípcios foram vendidos sem a apresentação de documentos que comprovassem a propriedade dos donos anteriores e provassem que os artefactos saíram do Egipto de forma legítima”. O comité, liderado por Khaled El-Enany, também pediu ao Reino Unido para proibir a exportação dos artefactos até que os documentos legítimos tenham sido apresentados.

Segundo a AFP, existem neste momento 18 missões arqueológicas a ser levadas a cabo por equipas britânicas no Egipto. A venda do busto que o Egipto diz ter sido roubado pela casa de leilões britânica pode vir a ter um impacto negativo nas relações culturais entre os dois países.

A escultura que está no centro do problema é feita de quartzo de cor escura, tem cerca de 28,5 centímetros de altura e foi vendida em leilão por mais de 4,7 milhões de libras (cerca de 5,2 milhões de euros). O busto retrata o rosto do jovem faraó que morreu com 19 anos a assumir a forma do deus egípcio Ámon.

Há já vários anos que o Egipto exige que lhe sejam devolvidos alguns artefactos recolhidos por arqueólogos e aventureiros ao longo dos anos, incluindo a Pedra de Roseta que está actualmente exposta no Museu Britânico, também em Londres.

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