Imprimir pele e ossos no espaço? A ESA criou as primeiras amostras “de cabeça para baixo”
Numa viagem interplanetária, os humanos terão de passar anos no espaço, sob efeito da microgravidade e das perigosas radiações cósmicas – o que causa degradação óssea. Como regressar à Terra não é opção, esta técnica de impressão 3D “invertida” será útil em caso de emergências médicas.
As viagens de seres humanos até Marte ainda não são uma realidade, mas há anos que se desenvolvem técnicas para melhorar a qualidade das viagens que se poderão fazer até lá. Um dos grandes problemas de uma viagem interplanetária é a degradação dos músculos e dos ossos devido à quase ausência de gravidade. Para o contornar, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla inglesa) anunciou nesta terça-feira que criou as primeiras amostras de pele e de ossos com impressão 3D, de “cabeça para baixo” – para provar que é possível fazê-lo em situações de microgravidade.
As amostras foram preparadas por cientistas do Hospital Universitário da Universidade Técnica de Dresden (Alemanha) e pela Blue Horizon, especialista em ciências da vida. O objectivo é criar no espaço tecidos “mais complexos” para transplantes e, idealmente, conseguir que se imprimam ossos e órgãos internos inteiros.
Esta técnica de impressão poderá ser utilizada em resposta a diferentes emergências médicas que surjam no espaço. No caso de uma queimadura, poderá criar-se uma “pele nova” em vez de se enxertar de outras partes do corpo do astronauta (o que demoraria mais a sarar no espaço); no caso de fracturas ósseas, poderá ser criado um osso de substituição.
A impressão 3D de pele e de ossos agora revelada pela ESA é uma das medidas em cima da mesa para ajudar a manter os astronautas saudáveis numa viagem até Marte. Em média, segundo a NASA, o “planeta vermelho” está a cerca de 225 milhões de quilómetros da Terra. Para se ir até lá, a viagem levará meses e os astronautas terão de passar anos no espaço, expostos a radiação cósmica e aos efeitos da microgravidade.
“A tripulação correrá muitos riscos e regressar a casa mais cedo não será possível. Levar abastecimentos médicos suficientes para todas as eventualidades seria impossível na área e carga limitadas de uma aeronave”, explica o supervisor do projecto da ESA, Tommaso Ghidini, citado em comunicado. A solução é bio-imprimir, consoante as necessidades.
As células de pele são impressas através da utilização de plasma sanguíneo – que, sendo líquido, teve de ser engrossado para aumentar a sua viscosidade e poder ser utilizado em pouca gravidade. Já a amostra óssea “envolveu a impressão de células estaminais humanas”, tendo-se adicionado um cimento ósseo de fosfato de cálcio para dar suporte à estrutura. E como o material bio-impresso é criado com células do próprio astronauta, explica Ghidini, não há possibilidade de rejeição de transplante.