Costa recusou ser presidente do Conselho Europeu “em nome do interesse do país e do PS”

A proximidade das legislativas foi decisiva para a recusa. Primeiro-ministro tem consciência de que afundaria o PS.

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António Costa Reuters/FRANCOIS LENOIR

O primeiro-ministro, António Costa, foi mesmo convidado para ser presidente do Conselho Europeu durante o processo negocial que levou à escolha dos ocupantes dos cargos de topo da nova arquitectura de poder da União Europeia, confirmou o PÚBLICO. O nome de António Costa foi de seguida também equacionado como possibilidade para presidir à Comissão Europeia por alguns dos responsáveis do processo negocial.

António Costa recusou de imediato, assim que foi confrontado com o convite para ocupar o lugar para que foi designado o primeiro-ministro belga, Charles Michel. De acordo com as informações obtidas pelo PÚBLICO, a sua decisão foi tomada em nome do interesse do país e também do interesse do PS, atendendo a que se avizinhava um período sensível de pré-campanha para as eleições legislativas de 6 de Outubro.

A questão colocou-se durante os meses de Abril e Maio, mas António Costa afastou logo qualquer hipótese. E logo no início de Maio declarou publicamente: “Não sou candidato a nada a não ser às funções que exerço em Portugal.”

Uma posição que foi por si reforçada na terça-feira, em declarações aos jornalistas em Bruxelas, ao confirmar que tinha tido um convite - “É sabido que sim” - mas sem explicar para que cargo concreto. Nessa ocasião, o primeiro-ministro português afirmou mesmo que o seu compromisso é “com os portugueses, com Portugal e em Portugal nos próximos anos, exclusivamente”.

Foi mesmo ao ponto de declarar: “Já disse o que tinha a dizer várias vezes sobre essa matéria. Não tenciono desertar de Portugal. Estou muito empenhado em continuar a fazer aquilo que tenho vindo a fazer, como aliás está provado.” Esta última declaração foi entendida como uma crítica implícita a Durão Barroso, que se demitiu de primeiro-ministro para ocupar a presidência da Comissão Europeia durante dez anos, após as eleições europeias de 2004, em que a coligação Força Portugal (PSD/CDS) obteve 33,27%, contra os 44,53% atingidos pelo PS, liderado por Ferro Rodrigues.

Ganhar legislativas

A razão que levou António Costa a recusar o convite foi considerar que, embora formalmente permitido, era impossível ser presidente do Conselho Europeu e permanecer como primeiro-ministro em Portugal. Optou assim por permanecer na chefia do Governo até às legislativas e liderar o PS nesta disputa eleitoral de forma a procurar ganhar as eleições e ser reconduzido no cargo, onde acredita poder concretizar uma nova fase do projecto político que tem para o país.

Recorde-se que o PS não ganhou as últimas legislativas e que António Costa foi empossado primeiro-ministro, em Novembro de 2015, fruto de inéditos acordos parlamentares com o BE, o PCP e o PEV. Agora, o líder socialista tem hipóteses de ganhar e tem consciência de que seria “fatal” para o PS, em termos políticos e eleitorais, surgir publicamente como um líder que “abandonava o partido e o país”, podendo mesmo conduzir a uma derrota eleitoral dos socialistas a 6 de Outubro.

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