Brasil, a crónica dos vencidos
Coisa bíblica, geradora de identidade regional e nacional, a Guerra de Canudos é um dos factos históricos mais marcantes do Brasil. O escritor Euclides da Cunha fixou-a em Os Sertões, livro difícil de catalogar sobre uma geografia que parece longe do mundo e deste tempo e sobre um povo que nunca se deu por derrotado apesar de tantas vezes vencido. Iniciamos aqui, no Sertão, um ano de viagens e reportagens pelo Brasil, do Rio à Amazónia. Vamos partir com livros e de livros para tentar entender a complexidade e a diversidade de um país-continente.
O rosto de Maria do Botão tem os mesmos sulcos do terreno à sua volta sempre que a seca se prolonga. Profundos, traçados por um sol sem dó, marcando um carácter sem outro remédio a não ser resistir com a perseverança dos que têm toda a calma porque conhecem todo o sofrimento. Os traços do rosto de Maria Botão, como os do solo sertanejo, são os traços da fatalidade. E o rosto dela é o mapa de uma vida num território onde o tempo parece não passar a não ser pelas sucessivas contagens de vivos e mortos. Em tudo o resto tem-se cristalizado.
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