Portugal promove Cimeira Europa-África no primeiro semestre de 2021, anuncia Marcelo

Presidente da República falava no EurAfrican Forum, cujo tema é “Parceria entre iguais”, ao lado do homólogo moçambicano. “Países iguais não existem, prefiro falar de partilha e consensos”, contrapõe Filipe Nyusi

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A conversa entre os dois Presidentes foi sobretudo sobre Moçambique LUSA/MIGUEL A. LOPES

O tema do II EurAfrican Forum é Parceria entre Iguais: Partilhando Valores, Partilhando Prosperidade, mas o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, corrige o ângulo: “Países iguais não existem, como pessoas iguais não existem. Eu prefiro falar de partilha, consensos e encontros”. Filipe Nyusi tinha acabado de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa, ao seu lado, referir-se ao tema da segunda edição do fórum promovido pelo Conselho da Diáspora Portuguesa para defender a necessidade de “criar um contexto favorável ao investimento em termos diferentes do que foi no passado”. E anunciar que Portugal vai promover a próxima Cimeira Europa-África no primeiro semestre de 2021, o período da sua presidência rotativa da União Europeia.

O chefe de Estado referiu que “o Governo português já disse” que haverá uma Cimeira UE/África no primeiro semestre de 2021, embora esse anúncio ainda não tivesse sido feito publicamente. Segundo o Presidente da República, isso está assegurado, “qualquer que seja o Governo português saído das próximas eleições” legislativas, marcadas para 6 de Outubro.

Os dois Presidentes partilhavam o palco do fórum para uma conversa a duas vozes sobre o futuro das relações entre os dois continentes, mas acabaram por falar sobretudo sobre as relações entre os dois países, a reconstrução das zonas afectadas pelos ciclones de Março e a paz em Moçambique. E foi o Presidente luso quem acabou por antecipar “um acordo de tréguas definitivas muito em breve” naquele país.

Filipe Nyusi não o confirmou explicitamente, mas tudo o que disse foi nesse sentido. “As nossas prioridades são desarmar, desmilitarizar e integrar [a oposição]. Não queremos partidos armados”, disse. Citou o Papa Francisco, que vai receber em Setembro no país, para afirmar o seu empenho na “paz, esperança e reconciliação” e garantiu estar a criar condições para que o Secretário-Geral das Nações Unidas se possa reunir com todas as forças políticas durante a sua deslocação a Moçambique na próxima semana.

“Ontem estive no parlamento português e estavam lá os seis partidos, todos juntos a conversar… é bonito ver as pessoas assim a dialogar”, comentou o chefe de Estado. Por seu lado, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou o “papel liderante” do seu homólogo na “construção de uma paz duradoura e sustentável”. “Há um novo ciclo que se abre, há uma abertura e capacidade de projecção de futuro”, acrescentou, recordando as eleições gerais (presidenciais e legislativas) que o país africano vai realizar em Outubro.

Nesse contexto, o Presidente português falou do “entusiasmo e expectativa” dos portugueses, e em particular das empresas portuguesas, “muito empenhadas no investimento em Moçambique”. Mas não só portuguesas: “Todo o mundo acompanha o que se passa em Moçambique”.

A tragédia vivida pelo país este ano, com as cheias e dois ciclones – um deles, o Idaí, com uma força extraordinária – foi o tema onde os dois mais se demoraram. Falaram da Cimeira de Doadores e dos apoios internacionais, escassos para a dimensão das necessidades e nem sempre cumpridos, mas com Nyusi a assumir a responsabilidade da reconstrução: “O responsável número um é sempre o moçambicano, temos de liderar a reconstrução e reestruturar as vilas e cidades, modernizando-as e tornando-as mais resilientes aos ciclones – ainda que, como aqueles, não haja casa que resista”.

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentava dados sobre Moçambique, fazia elogios a várias políticas, como a criação do Fundo Soberano, e acabou por sentir necessidade de se justificar: “É a minha segunda pátria”. Nyusi respondeu no mesmo tom brincalhão: “Não sei se não é a primeira…”

Pivot no novo relacionamento

Logo a seguir à conversa entre os dois Presidentes, o ministro dos Negócios Estrangeiros, veio confirmar a vontade de Portugal se afirmar como um pivot no novo relacionamento que se quer entre os dois continentes. “Portugal tem uma responsabilidade específica no novo relacionamento que precisamos entre a Europa e África” e não deverá desperdiçar essa oportunidade, defendeu.

Segundo Santos Silva, Portugal tem “um recurso muito valioso, ancorado na história e nas pessoas, que vai crescer, e que é a língua, partilhada com muitos países de África” e também porque foi dos primeiros países europeus a olhar para “África como “prioridade”.

O ministro defendeu ainda a necessidade de uma relação económica “menos assimétrica” entre os dois continentes que se deve basear em três áreas: “pessoas, instituições e economia”. “A Europa tem um défice de pessoas e África vai duplicar, e depois triplicar, a sua população e muitos dos países da UE estão já muito perto do inverso demográfico”, acrescentou.

Para o chefe da diplomacia, essa complementaridade só pode ser activada “através de um processo integração, regular e seguro” dos migrantes, sublinhando que as migrações internas em África também “são muito importantes”. Com Lusa

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