China diz ao Reino Unido para “tirar as mãos” de Hong Kong

Embaixador de Pequim em Londres acusa o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico de ter “mentalidade colonial” ao lembrar o acordo para a transição do território. Jeremy Hunt diz que não apoia a violência desta semana, mas reafirma que haverá “sérias consequências” se as liberdades não forem garantidas.

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Pelo menos 12 pessoas foram detidas após a invasão do Parlamento Reuters/JORGE SILVA

Os protestos das últimas semanas em Hong Kong, em particular a invasão do Parlamento local por centenas de jovens manifestantes, agravaram o ambiente de tensão entre Londres e Pequim, que tentavam recuperar de um incidente no Mar do Sul da China há menos de um ano.

Logo após a invasão do Parlamento, na segunda-feira, o ministro da Defesa britânico, Jeremy Hunt, disse que a China enfrentará “sérias consequências” se não cumprir o acordo assinado entre os dois países em 1984, que orientou a passagem da soberania do território para a autoridade chinesa em 1997.

Esta quinta-feira, em declarações à BBC Radio, Hunt salientou que não apoia actos de violência, mas manteve o aviso que fez no início da semana.

“Eu disse que condeno, e todo o Reino Unido condena, qualquer tipo de violência. E disse que as pessoas que apoiam o movimento pró-democracia [em Hong Kong] devem ter ficado chocadas com as imagens que viram”, começou por dizer o ministro britânico, que é também adversário de Boris Johnson na corrida ao cargo de primeiro-ministro em substituição de Theresa May.

“Não fico surpreendido com a forma como a China reagiu, mas eles têm de perceber que o Reino Unido é um país que honra as suas obrigações internacionais. Assinámos um acordo em 1984 com uma duração de 50 anos, e esperamos que todas as partes o cumpram”, disse Hunt.

Em causa está o receio, partilhado pelas centenas de milhares de pessoas que se têm manifestado nas ruas de Hong Kong nas últimas semanas, que a base desse acordo seja posta em causa pela China, pondo em risco a promessa de manutenção das liberdades no território.

Em particular, os críticos acusam a chefe do Executivo local, Carrie Lam, de executar as ordens de Pequim e de não ouvir os cidadãos de Hong Kong ao apoiar uma proposta de lei que mudaria a política de extradição. Essa proposta foi suspensa por causa dos protestos, mas a responsável ainda não aceitou desistir dela, como exigem os manifestantes – se a proposta vier a ser aprovada, os suspeitos de crimes em Hong Kong, incluindo activistas pró-democracia, poderão ser transferidos para a China, onde seriam julgados em tribunais controlados pelo Partido Comunista Chinês.

Em resposta ao aviso do Reino Unido, o embaixador chinês em Londres, Liu Xiaoming, aconselhou o Governo britânico a “tirar as mãos de Hong Kong e a mostrar respeito”.

“Algumas pessoas ainda olham para Hong Kong como se fosse uma colónia britânica. Esquecem-se de que Hong Kong regressou à pátria e mostram que essa mentalidade colonial ainda persegue alguns políticos”, disse Liu. Depois destas declarações, o responsável foi chamado pelo Governo britânico para dar explicações.

Para além da proposta de lei sobre a extradição, os habitantes de Hong Kong têm-se manifestado nos últimos anos para que as autoridades chinesas cumpram a promessa feita pelo ex-Presidente Hu Jintao em 2007. Nessa altura, Pequim disse que os eleitores do território poderiam escolher o seu chefe do Executivo por voto directo, pela primeira vez, em 2017 – isso não aconteceu, e a actual líder, Carrie Lam, foi eleita a partir de um grupo de candidatos escolhido pelo Governo chinês.

Esta quinta-feira, a polícia de Hong Kong anunciou que deteve 13 pessoas após a invasão do Parlamento e que continua a procurar “dezenas de suspeitos”.

“Recolhemos milhares de provas no edifício do Parlamento, incluindo capacetes, máscaras e barras de ferro”, avança o jornal South China Morning Post citando um responsável que não foi identificado. “Os nossos especialistas vão agora recolher impressões digitais e vão realizar testes de ADN.”

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