Manifestantes tentam invadir Governo de Hong Kong

Comemoração da passagem do território para a China marcada por violentos confrontos. Protestos das últimas semanas são vistos como uma ameaça à autoridade do Governo de Pequim.

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Centenas de manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia em Hong Kong, esta segunda-feira, durante as comemorações da passagem do território para a China. Antes da cerimónia, um pequeno grupo de pessoas tentou invadir o edifício do Governo de Hong Kong, onde esteve em discussão uma proposta, agora suspensa, para que seja possível extraditar cidadãos do território autónomo para China.

Os agentes da polícia de intervenção investiram contra os manifestantes com bastões e gás lacrimogéneo, e depois recuaram para proteger a entrada do edifício onde iria decorrer o hastear da bandeira, que acontece todos os anos desde 1 de Julho de 1997, quando o Reino Unido entregou o território à China.

“As pessoas têm ficado mais activas nos últimos anos porque perceberam que os protestos pacíficos não iam resultar”, disse à agência Reuters um manifestante de 24 anos, identificado apenas pelo apelido Chen.

Antes da cerimónia, que decorreu no Centro de Convenções e Exposições, um grupo de activistas que protestava às portas do Conselho Legislativo colocou a meia-haste uma bandeira com o símbolo de Hong Kong a negro, virando ao contrário a bandeira oficial.

Calcula-se que mais de um milhão de pessoas saíram para as ruas nas últimas três semanas, em Hong Kong, em protesto contra as decisões da chefe do Executivo do território, Carrie Lam, eleita em 2017 como a favorita do Governo central chinês.

As gigantescas manifestações das últimas semanas foram motivadas por uma proposta de lei, actualmente suspensa, que permitiria o envio de cidadãos de Hong Kong para a China, para serem julgados em tribunais controlados pelo Partido Comunista.

Apesar de ser um território autónomo da China, à semelhança de Macau, os habitantes de Hong Kong têm uma história de décadas em defesa da independência dos seus sistemas político e judicial em relação a Pequim.

Nos últimos anos, a população mais jovem de Hong Kong tem endurecido a luta contra o que dizem ser a ofensiva da China para acelerar uma assimilação total, depois de Pequim ter aceite a devolução do território, das mãos do Reino Unido, com a promessa de manter liberdades como o direito à manifestação ou a independência do sistema judicial.

Em particular, os manifestantes exigem que a eleição para o Parlamento local e para o cargo de chefe do Executivo sejam feitas por sufrágio universal e directo, e não como acontece agora. Em 2014, o Governo central chinês determinou que os eleitores de Hong Kong só podem escolher o seu chefe do Executivo de uma lista de até três candidatos seleccionados pela Comissão de Eleições – um órgão leal ao Partido Comunista chinês.

A proposta de extradição é apenas a mais recente medida que os manifestantes vêem como uma prova da interferência de Pequim.

Esta segunda-feira, centenas de pessoas juntaram-se no Parque Vitória debaixo de temperaturas a rondar os 33 graus.

Mais uma vez, à semelhança do que aconteceu nas últimas semanas, os manifestantes paralisaram partes da megacidade, bloqueando estradas com barreiras de metal e tábuas de madeira.

Antecipando o protesto, as autoridades locais enviaram um enorme contingente policial para proteger a área do Centro de Convenções e Exposições, onde iria decorrer a cerimónia do hastear da bandeira.

A chefe do Executivo, Carrie Lam, esteve presente na cerimónia, acompanhada por Tung Chee-hwa, o primeiro a ocupar o cargo, entre 1997 e 2005. Foi a primeira vez que Carrie Lam apareceu em público em quase duas semanas.

“O incidente que aconteceu nos últimos meses levou a controvérsias entre o povo e o Governo”, disse a responsável, que indicou nos últimos tempos uma maior aproximação às exigências dos cidadãos de Hong Kong.

“Isso fez-me perceber que eu, enquanto política, tenho de me lembrar sempre da necessidade de captar o sentimento do povo de forma correcta.”

Apesar de ter ordenado a suspensão da proposta de lei, Carrie Lam ainda não se comprometeu o seu fim.

A onda de protestos em Hong Kong começou em 2014, depois da eleição do Presidente Xi Jinping e das manifestações pró-democracia desse ano, que impressionaram pela dimensão e pela duração, mas que não obtiveram resultados práticos.