A carreira de Lena d’Água vista à lupa em Vejam Bem

O episódio de Junho da série documental da RTP1 é sobre a cantora que, com 40 anos de carreira, lançou Desalmadamente em Maio.

Foto
Lena d'Água revisita os seus 40 anos de carreira em Vejam Bem DR

Lena d'Água está sentada no palco do Teatro Eduardo Brazão, no Bombarral, onde fica A-dos-Ruivos, a aldeia para onde foi morar há largos anos. Fala para a câmara sobre a carreira, do começo nos anos 1970, quando fazia coros nos ensaios dos Beatnicks ainda antes de ser uma das vozes da banda, até aos dias de hoje, com o aclamado Desalmadamente, saído em Maio, nas ruas, um ressurgimento público que teve no Festival da Canção de 2017 um dos passos iniciais. É, aliás, uma óptima altura para a apanhar: está a atravessar um dos momentos mais felizes da carreira recente. Os momentos mais importantes vão sendo ilustrados com fotografias e vídeos de arquivo, a maioria delas da RTP, e a própria cantora vai mostrando capas dos discos falados.

É isto que acontece em Nunca Me Fui Embora, o sétimo episódio da série documental Vejam Bem, que todos os meses leva a RTP Memória para a RTP1 para revisitar a carreira de grandes figuras da música portuguesa partindo de uma entrevista com elas. Vai para o ar este sábado, às 23h38. O primeiro episódio, em Outubro, foi com Simone de Oliveira, tendo-se seguido José Mário Branco, José Cid, Jorge Palma, Marco Paulo e Paulo de Carvalho. Em Julho será a vez de Carlos de Carmo, e depois de uma pausa em Agosto retoma em Setembro. Tal como neste caso, que tem o nome da canção levada ao Festival da Canção em 2017, os títulos dos outros episódios também são temas dos visados – já o nome da série, esse, vem do clássico de José Afonso.

Guiar memórias

A ideia, é apanhar, nas palavras de Gonçalo Madail, subdirector da RTP1 e director da RTP Memória, os nomes “panteónicos” da música portuguesa, com profundidade e décadas de carreira. É uma série de Nuno Galopim, que partilha a realização de cada episódio com vários realizadores da casa. No episódio de Lena d'Água, trabalhou com Hugo Manso, que já tinha feito o episódio de José Cid. Tanto Madail como Galopim foram dois dos arquitectos do novo fôlego do Festival da Canção pelo qual Lena d'Água passou.

Nuno Galopim é quem põe os convidados a falar, fazendo perguntas – que nunca se ouvem – para guiar as memórias deles e fazê-los lembrarem-se de algo de repente. Só está interessado na vida pessoal dos visados se isso tiver que ver com a obra. “Não é uma história da vida da pessoa, é uma história da vida artística da pessoa e a vida da pessoa só está aqui quando interfere na biografia musical ou artística”, explica ao PÚBLICO na sala da RTP em que os dois realizadores estão a dar os últimos toques na edição do documentário, três dias antes de este ir para o ar. Na porta fechada atrás de ambos estão colados dezenas de post-its com a estrutura do episódio.

Não há fim à vista

Nesta primeira leva de episódios, em que todos os entrevistados começaram a carreira antes de 1980, só há duas mulheres. “É uma grande preocupação minha, mas que reflecte uma realidade sociológica portuguesa”, responde Nuno Galopim. Diz que as recentemente falecidas Madalena Iglésias e Celeste Rodrigues seriam exemplos de convidadas possíveis, e adianta que já tem duas mulheres “engatilhadas entre os primeiros nomes da próxima temporada” e que “hoje é tudo muito diferente”. Gonçalo Madail, a olhar para a frente, comenta que “daqui a dez ou 15 anos” já aparecerão nomes femininos com “esta profundidade de carreira” que o programa requer.

Estarem já a pensar nas próximas décadas acontece porque não há fim à vista. “Daqui a 30 anos podem estar a fazer o Conan Osiris”, diz Nuno Galopim. A ideia é ficar com uma colecção de “documentos tratados sobre as grandes figuras da nação”, resume Gonçalo Madail. Há planos, ainda embrionários, para mostrarem episódios no grande ecrã. Só se sabe que é para durar, sempre com ligações entre os artistas de cada episódio, quer surjam naturalmente em conversa ou sejam forçados pela realização. O próprio episódio de Lena d'Água, explica o autor Nuno Galopim, tem vários easter eggs que dão pistas para os convidados dos próximos episódios.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários