PS quer diminuir pegada ecológica na campanha e desafia partidos a reduzir cartazes
Proposta da secretária-geral adjunta e outros quatro militantes recomenda 10 medidas de protecção ambiental para aplicar na campanha para as legislativas.
E se os candidatos às legislativas de Outubro chegassem aos comícios de autocarro, metro ou bicicleta – ou no máximo em carros eléctricos? Seria impulso? Não, seria apenas o cumprimento de uma recomendação que deverá ser aprovada esta quinta-feira à noite na reunião da Comissão Nacional do PS, que tem como primeira subscritora a secretária-geral do partido, Ana Catarina Mendes. A questão ambiental, que já tinha marcado presença na campanha para as europeias, promete dar que falar muito antes do início da campanha.
São dez medidas com as quais se pretende reduzir, de forma substancial, a pegada ecológica da campanha eleitoral dos socialistas, com vista a alcançar a neutralidade carbónica que, em última análise, é conseguida através da plantação de árvores que compensem os gases emitidos. Para isso, os cinco socialistas que subscrevem a proposta - além de Ana Catarina Mendes, Duarte Cordeiro, Marcos Sá, Hugo Xambre e Hugo Pires - defendem que deve ser colocado, no site de campanha do PS, um contador que registará a pegada ecológica da campanha eleitoral.
A proposta inclui também uma medida que extravasa o PS: a ideia é desafiar publicamente todos os partidos a reduzirem para metade o número de outdoors em relação a campanhas eleitorais anteriores, de forma a contribuir “para a diminuição do ruído visual e do impacto ambiental” dos cartazes em espaços públicos. Nas eleições europeias, o PS foi o partido com mais verba para estruturas e cartazes (190 mil euros), mas o partido não revela quantos usou e quantos pensa utilizar para as legislativas.
As dez medidas apresentadas referem-se a três grandes áreas da campanha: mobilidade, meios de propaganda e uso da água. Se a proposta for aprovada, a direcção da campanha do PS responsável pela organização das eleições legislativas vai ter de garantir, em primeiro lugar, que os automóveis alugados para a campanha serão híbridos ou eléctricos, desde que estejam disponíveis e não violem os valores máximos estipulados pela Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP).
Em deslocações locais recomenda-se que sejam usadas bicicletas ou outros meios suaves de mobilidade, não apenas para reduzir a pegada ambiental, mas também para “sensibilizar os eleitores para a transição energética, para um estilo de vida saudável e para a defesa do ambiente”. Aos candidatos a deputados, recomenda-se que optem pela utilização de transportes públicos, “sempre que essa oferta esteja disponível”, e com um objectivo político claro: dar “visibilidade e realçar, pelo seu exemplo, a medida revolucionária do Governo PS de redução significativa do custo dos transportes públicos para a grande maioria dos portugueses”.
Lápis em vez de canetas e menos papel
Acabar com as canetas de plástico, que são hoje a principal oferta dos partidos em campanha, e substitui-las por lápis é outra das medidas apresentadas pelos cinco proponentes da recomendação. Mas surge apenas como exemplo do que deve ser feito a nível da reformulação de todo o merchandising, vulgo brindes, para “garantir a eliminação do plástico” e “promover a economia local, social e os valores ambientais”.
Reduzir o papel também faz parte das ideias fortes da recomendação e para isso propõe-se “apostar na promoção e divulgação de folhetos e programas eleitorais essencialmente na internet e redes sociais, na sua versão digital”. Mesmo quando seja considerado essencial haver material impresso, prevê-se que seja usado apenas “material 100% reciclável e em papel cuja origem tem certificado no âmbito da gestão florestal sustentável”. Os socialistas querem também garantir que todos os materiais e sobras de campanha serão “recolhidos com o objectivo de serem devidamente reciclados ou incorporados, no âmbito da economia circular, na produção de outros produtos ou artigos, garantindo a sua reutilização para outras iniciativas do PS”. Se estas três medidas forem aplicadas, será cumprida a regra dos três R’s: reduzir, reciclar e reutilizar.
Em matéria de água, as duas medidas propostas são aparentemente simples, mas difíceis de concretizar – e por isso não passam de recomendações. A primeira é que a lavagem dos meios de transporte alugados para a campanha eleitoral seja feita por equipamentos que reutilizem a água, ou, em alternativa, sistemas de lavagem que utilizam técnicas com produtos ecológicos e que não usam água para consumo humano. A segunda é que em todas as acções e iniciativas de campanha seja disponibilizada, exclusivamente, água da torneira, em recipientes de vidro produzido em Portugal, “reconhecendo assim publicamente todo o sector da água e os seus trabalhadores, assim como, a sua qualidade referenciada e validada pela ERSAR, mas também assumindo, publicamente, que esta prática é a melhor opção ambiental e uma medida determinante para a redução do plástico no meio ambiente”.
A medida tem a cara de Marcos Sá, um dos cinco proponentes, e que já em 2010 apresentou uma recomendação, enquanto deputado, com vista ao consumo exclusivo de água da torneira no Parlamento e eliminação dos sacos plásticos. Não conseguiu: a medida foi considerada pouco higiénica e impraticável pela administração da Assembleia da República na altura. Ainda hoje só é praticada na comissão parlamentar de Ambiente, embora haja já máquinas dispensadoras de água espalhadas pelo edifício. Só que continua a ser água engarrafada e que é consumida em copos de plástico.
Primárias para a escolha dos candidatos?
A proposta de recomendação ambiental é apenas um dos assuntos que vai ser discutida na reunião da Comissão Nacional do PS desta quinta-feira à noite. O tema político mais quente deverá ser outro: a apresentação, discussão e votação dos critérios e metodologias de designação das
listas de candidatos a deputados. Em causa estará a realização de eleições primárias, abertas à votação de todos os cidadãos, para a escolha dos candidatos do PS às legislativas, que vai voltar a ser proposta por Daniel Adrião. Essa possibilidade foi aprovada no último Congresso do partido, em Maio de 2018, mas a metodologia tem de ser proposta pelo secretariado ou por membros da comissão nacional. Essa discussão poderá marcar a reunião desta noite.